Os vencedores de 2011

Educação Física e inclusão são destaque na 14a edição, que premiou dez professores e uma gestora escolar.
Mais de 1,2 mil pessoas presentes na Sala São Paulo, na capital paulista, prestigiaram no dia 17 de outubro os ganhadores do Prêmio Victor Civita – Educador Nota 10 – uma coordenadora pedagógica e dez professores. Eles representaram as cinco regiões brasileiras, as zonas urbana e rural e várias disciplinas. Com um trabalho de consciência corporal na Educação Física, em que o destaque foi a inclusão de crianças com deficiência, a mineira Fernanda Pedrosa de Paula foi eleita a Educadora do Ano com o projeto Respeitável Público: O Circo na Escola. “Eu apenas represento uma gama de professores que às vezes não aparece, mas está na sala de aula, realizando inúmeras acrobacias e malabarismos para garantir que seus alunos aprendam”, comentou Fernanda, com muita emoção, após receber o prêmio entregue pelo presidente da Fundação Victor Civita (FVC), Roberto Civita.
A cerimônia coroou o trabalho iniciado vários meses antes na FVC com o recebimento de 2.828 inscrições. O material foi averiguado por 15 selecionadores das várias áreas do conhecimento. A escolha da Educadora do Ano ficou a cargo dos jurados:
- Ruy Aguiar, especialista de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
- Maria Malta Campos, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC)
- Nilson José Machado, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)
- Sofia Lerche Vieira, docente da Universidade Federal do Ceará (UFC)
- Sonia Madi, coordenadora da Olimpíada de Língua Portuguesa,
- Vera Placco, professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
- Regina Scarpa, presidente do júri e coordenadora pedagógica da FVC
A festa promovida pela FVC e patrocinada pelas editoras Ática, Scipione e Saraiva foi apresentada pela atriz Denise Fraga. Durante a noite, ela destacou a ousadia e a criatividade dos educadores. Antes do anúncio da Educadora do Ano, o público vibrou com as apresentações do grupo de músicos liderado pelo maestro Benjamim Taubkin e de João Bosco. O evento teve presença do ministro da Educação, Fernando Haddad, do secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Alves Schneider, e do secretário estadual de Educação de São Paulo, Herman Voorwald.
Adriana Rodrigues de Almeida Oliveira
Língua Portuguesa / Fundamental I
Projeto: Ler para estudar: aves em extinção no Brasil
Escola Municipal de Caimbongo
Ibitiara, BA
Eram 16 alunos com diferentes idades (entre 5 e 11 anos) e níveis (da pré-escola à 4ª série) em uma mesma sala da única escola de Caimbongo, uma comunidade rural que reúne agricultores e garimpeiros. Para ensinar procedimentos de leitura e escrita, Adriana conduziu um projeto didático sobre animais em extinção e trabalhou com a turma inteira em conjunto, o que permitiu aproveitar a diversidade de saberes das diferentes faixas etárias a favor das aprendizagens. As crianças decidiram que estudariam a ema, um animal da região, e fariam um folheto sobre as causas de sua extinção. Os alunos seguiram um cronograma e cumpriram etapas como pesquisa em enciclopédias, revistas e livros; rascunho do texto informativo; elaboração de convite à secretária do meio ambiente (para uma palestra); tomada de notas na palestra; produção de ficha informativa sobre o animal; análise de modelos de folhetos; finalização de textos e ilustrações. Depois de quatro meses de atividades, a professora conseguiu alfabetizar todos os pequenos e transformar os maiores em leitores e escritores proficientes.
Leia a reportagem em Nova Escola: Alfabetização, leitura e escrita em sala multisseriada
Catia Eliane Nicolachik
Língua Portuguesa / Fundamental I
Projeto: Contos de Fadas
Escola Municipal Ayrton Senna
Itapoá, SC
Apesar de estarem em processo de alfabetização, os alunos de Catia não foram subestimados. Ela incluiu no repertório de leitura somente literatura de qualidade: trabalhou com o conto “Chapeuzinho Vermelho” em versões tradicionais, como a dos irmãos Jakob e Wilhelm Grimm e a de Charles Perrault , e outras contemporâneas, como a de Guimarães Rosa e a de Chico Buarque de Holanda. Com bom planejamento e objetivos claros, a professora fez suas duas turmas do 1° ano reescreverem o clássico da literatura infantil. Para isso, passaram pelas principais etapas de produção de um livro: redação do texto, revisão, ilustração e até uma tarde de autógrafos. Catia também se apoiou nos contos para levar a classe a refletir sobre o sistema de escrita. Propôs atividades com o nome dos personagens e o título das histórias, por exemplo. No início do projeto, 30 dos 40 alunos não eram alfabéticos. Ao final de quatro meses, apenas 13 ainda não estavam alfabetizados, mas já tinham avançado consideravelmente.
Leia a reportagem de Nova Escola: Reescrita de texto literários na alfabetização inicial
Célia Maria Ribeiro Batista
Matemática / Fundamental I
Escola Municipal Presidente Castello Branco
Projeto: Introdução ao Estudo de Medidas de Superfície
Joinville, SC
Célia recorreu a uma referência visual, o metro quadrado no seu tamanho real, para ensinar à turma do 6° ano os conceitos de superfície e área. Apesar de ser um conteúdo do 5° ano, ela verificou que os alunos não sabiam calcular a área e nem mesmo explicar o que é metro quadrado. Em dez aulas, os estudantes fizeram experimentações. Em grupo, eles construíram com jornal, trena e fita crepe um quadrado de 1 metro de lado para visualizar a sua área. Ao terminar a tarefa, verificaram que a superfície construída correspondia a 1 metro quadrado. Com ele, a turma discutiu soluções e apontou diferentes caminhos para calcular a área da sala de aula. Depois, Célia propôs a decomposição do quadrado em três triângulos. Os estudantes formaram outras figuras, como losango, trapézio, paralelogramo e triângulo, e visualizaram que uma mesma área pode ter diversas formas. Desse modo, entenderam a diferença entre área e perímetro.
Leia a reportagem de Nova Escola: O metro quadrado na medida certa
Edson Thó Rodrigues
Matemática / Fundamental II
Projeto: Espelhos e Caleidoscópios: Investigações Matemáticas Sobre Simetrias
EMEF Ministro José Américo de Almeida
João Pessoa, PB
A ideia do projeto do professor Edson foi trabalhar as transformações geométricas utilizando espelhos e caleidoscópios, envolvendo os alunos em investigações matemáticas. A sequência de atividades explorando a geometria aconteceu com a ajuda de figuras, imagens e um, dois ou até três espelhos. O trabalho foi dividido em etapas. Em cada uma, os alunos eram colocados frente a um desafio e tinham de levantar hipóteses, fazer testes e discutir os resultados obtidos. Em seguida, a turma socializava suas descobertas. Ao final, o professor reuniu a classe para sistematizar os conteúdos estudados. Eles descobriram o que é eixo de simetria e como encontrá-lo, aprenderam sobre a transformação de reflexão e os conceitos matemáticos por trás dela e a relação entre o ângulo de abertura e a quantidade de lados de um polígono.
Leia a reportagem de Nova Escola: Análise de simetrias com espelhos
Elaine Adriana Rodrigues de Paula
História / Fundamental I
Projeto: Objetos e costumes de nossos antepassados
Escola Municipal Agnes Pereira Machado
Catas Altas, MG
Para ensinar um conteúdo do currículo do 3º ano – a História local e seus costumes –, Elaine propôs à turma uma pesquisa sobre objetos antigos, como utensílios domésticos e instrumentos de trabalho que permanecem guardados nas casas. Antes de pôr em prática sua ideia, resolveu que falaria com os alunos sobre a época em que foram descobertos os metais preciosos e teve início a exploração mineradora, no século 18, articulando a história local com a História do Brasil. A professora pediu que trouxessem para a sala materiais antigos, como uma balança e um ferro de passar a brasa. A turma analisou a utilização de cada objeto no contexto em que viviam seus antepassados e na atualidade. Para isso, os alunos entrevistaram familiares, visitaram o Museu do Caraça e leram artigos históricos. Depois de produzir muitos textos, as crianças fizeram desenhos de observação dos objetos estudados e reuniram tudo em um livro.
Leia a reportagem de Nova Escola: História do cotidiano
Fernanda Pedrosa de Paula – Educadora do Ano
Educação Física / Fundamental I
Projeto: Respeitável público: Um Circo da escola!
Escola Municipal José de Calasanz
Belo Horizonte, MG
O contato com manifestações diversas e ensinar a importância do trabalho em equipe e da convivência com diferentes pessoas faz parte da perspectiva atual da Educação Física. Esses aspectos foram contemplados no projeto de Fernanda, a grande vencedora de 2011. Ela escolheu para as turmas de 4º e 5º ano práticas corporais da cultura circense, atividades simples e que só necessitaram de materiais existentes na escola ou que pudessem ser adaptados. Fernanda abordou três eixos: manipulações com malabares, que trabalham a agilidade e a coordenação motora; acrobacias, como pular corda, fazer estrela e cambalhota, que desenvolvem força e resistência musculares; e equilíbrio, exercitado com tambor e perna de pau. Durante as aulas, a professora valorizava a participação de todos – os mais e os menos habilidosos, os mais fortes e os mais fracos – de acordo com as possibilidades de cada um. Outra preocupação foi incluir as crianças com necessidades educacionais especiais (NEEs), um destaque no projeto.
Leia a reportagem em Nova Escola: O circo que inclui todos na Educação Física
Flávia Pereira Lima
Ciências / Fundamental I
Projeto: Carlos Chagas, um cientista brasileiro!
Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação
Goiânia, GO
Preocupada em romper com a visão estereotipada que os alunos tinham a respeito dos cientistas, Flávia montou um projeto para aproximar suas duas turmas de 5º ano do conceito de raciocínio científico e humanizar esse tipo de profissional. A professora ensinou as etapas do método científico com um exemplo real: a história de Carlos Chagas e suas pesquisas. Ela elaborou uma sequência didática sobre a descoberta do mal de Chagas, com momentos para que os alunos pesquisassem, analisassem e questionassem informações e construíssem hipóteses para seguir os passos do descobridor da doença – comportamentos que balisam a postura dos cientistas. Ela também abordou conteúdos clássicos da disciplina relacionados ao tema (o que é malária e mal de Chagas, quais são seus sintomas e como são transmitidos). Desafiados a pensar o que fariam para resolver determinada questão, os estudantes aprenderam a refletir sobre o que observaram e dessa forma vivenciaram o cotidiano do ofício de cientista.
Leia a reportagem em Nova Escola: Ela ensinou como se faz ciência de verdade
Lucimar Borba de Lima
Matemática / Fundamental I
Projeto: Cálculo Mental: Fácil ou difícil?
EMEF Chapeuzinho Vermelho
Ariquemes, RO
Lucimar selecionou 12 cálculos que se enquadram nos tipos básicos e adequados ao 2° ano e pediu que as crianças classificassem cada um deles em fácil ou difícil, explicassem o motivo e registrassem o resultado se o soubessem. A professora ensinou seus alunos a organizar um repertório memorizado de somas e subtrações. Até então, eles contavam nos dedos, faziam traços e depois partiam para a contagem ou simplesmente diziam que um cálculo era difícil porque tinha números grandes ou porque a professora ainda não tinha ensinado a resolvê-lo. Depois, Lucimar incentivou a turma a defender suas estratégias de resolução e comentar a dos colegas. Foi importante para que todos tomassem consciência dos procedimentos que usavam e dos cálculos que sabiam. Com o confronto de opiniões, as crianças refletiram sobre os caminhos mais econômicos e confiáveis para calcular, sentindo-se prontas para resolver desafios mais complexos.
Leia a reportagem em Nova Escola: A construção do repertório de cálculos memorizados
Luís Carlos Batista Rodrigues
Geografia / Fundamental II
Projeto: A contribuição da atividade comercial para a organização do espaço teresinense
Escola Municipal São Sebastião
Teresina, PI
O professor Luís Carlos desenvolveu um projeto para que suas turmas do 9º ano percebessem a contribuição do comércio para a organização do espaço de Teresina. Para isso, os alunos pesquisaram o desenvolvimento da cidade por meio de leitura de textos, análise de mapas e fotos, observação das marcas do tempo na paisagem, fizeram entrevistas com moradores e trabalhadores e produziram registros. Em seguida, saíram a campo para ver de perto as mudanças provocadas pelo comércio no centro histórico da cidade. Com o objetivo de organizar as informações coletadas durante a investigação, o projeto culminou em um documentário narrado pelos alunos, que também elaboraram o roteiro. A falta de dados na bibliografia os levou a produzir o próprio material informativo. Ao mesmo tempo, Luís Carlos valorizou a produção dos estudantes, que também são agentes pesquisadores e produtores de conhecimento.
Leia a reportagem em Nova Escola: Uma Teresina que não existe nos livros
Maria Inês Miqueleto Casado – Gestora Nota 10
Gestor / Coordenação Pedagógica
Nome do projeto: Instrumentos de acompanhamento das aprendizagens dos alunos
E. E. Profª Maria Aparecida dos Santos Oliveira
Ibitinga, SP
Maria Inês sabe que verificar o processo de ensino e aprendizagem é primordial para melhorar os resultados dos alunos e direcionar a pauta da formação e a ação dos professores. Seu objetivo era fazer com que a escola atingisse a nota de 4,58 nas séries iniciais do Ensino Fundamental no Índice de Desenvolvimento da Educação no Estado de São Paulo (Idesp) de 2010. A média alcançada – 5,12 – superou as expectativas. As atividades permanentes de formação iniciadas no ano anterior garantiram o sucesso. A produção de textos é um dos itens observados nos diagnósticos bimestrais de Língua Portuguesa que, com os de Matemática, servem para a coordenadora acompanhar o aprendizado das crianças do Ensino Fundamental. Maria Inês analisa as produções dos alunos e faz um mapa da turma, apontando aqueles que têm dificuldade de aprendizagem e precisam de apoio. Outra ferramenta de análise são as observações em sala de aula, em que anota as atividades propostas, estratégias e o uso do material pedagógico, seguidas de devolutivas individuais aos professores.
Leia a reportagem de Gestão Escolar: Acompanhamento das aprendizagens dos alunos
Roberto Schkolnick
Educação Infantil
Projeto: Projeto Songbook Adoniran Barbosa 100 Anos
Escola Jacarandá – Berçário e Educação Infantil
São Paulo, SP
O projeto descrito por Roberto despertou a curiosidade e introduziu as crianças no mundo da música. Ele apresentou às crianças de 4 e 5 anos da pré-escola a vida e a obra de Adoniran Barbosa, músico que retratou a cidade de São Paulo numa era de industrialização e imigração intensa. Durante as atividades, além de ver fotos sobre aquele período, a classe tocou vários instrumentos, ouviu e cantou as músicas da época de seus avós e bisavós e aprendeu sobre o contexto em que foram compostas. Samba do Arnesto, Trem das Onze e Saudosa Maloca ficaram na ponta da língua dos pequenos, que gravaram até um CD em que cantam algumas das músicas que aprenderam. Todos puderam ouvir a própria voz, perceber o timbre dos colegas e identificar as diferenças entre as músicas. Além disso, fizeram registros no papel conforme a sua percepção auditiva dos sons, e com isso compreenderam que é possível transformar uma canção em desenho.
Leia a reportagem em Nova Escola: Livro de canções de Adoniran Barbosa