Os vencedores de 2012

A 15ª edição elegeu dez professores e uma gestora escolar. Prêmio de Educador do Ano valorizou a EJA e o ensino de Ciências.
No Dia do Professor, duas importantes bandeiras da Educação foram levantadas na cerimônia da 15ª edição do Prêmio Victor Civita – Educador Nota 10: a importância do ensino de Ciências e a qualidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esses aspectos permeiam o trabalho do professor Felipe Bandoni de Oliveira, escolhido como Educador do Ano de 2012 no evento organizado pela Fundação Victor Civita (FVC) e realizado na Sala São Paulo, na capital paulista. “Muitos programas governamentais e instituições têm trabalhado até com voluntários na EJA e negligenciado essa modalidade de ensino, o que não gera bons resultados. A iniciativa premiada mostra o quanto são importantes a formação do docente e seu engajamento para que seja desenvolvido um trabalho de qualidade”, comentou Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da FVC e presidente do júri.
Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), Oliveira leciona Ciências no Colégio Santa Cruz, escola particular em São Paulo. No período da noite, toda a infraestrutura do colégio é usada gratuitamente pelas turmas e pelos professores de EJA. A formação, o empenho, a criatividade e a competência do educador no uso desses recursos fizeram a diferença na aprendizagem de seus alunos. O trabalho de Felipe cativou júri, formado por Rui Aguiar, gestor de programas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Maria Malta Campos, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), em São Paulo, Nilson José Machado, docente da Faculdade de Educação da USP, Sofia Lerche Vieira, pesquisadora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro- Brasileira (Unilab), Vera Placco, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), e Regina Scarpa.
Os vencedores foram eleitos entre cerca de 2.500 professores, coordenadores pedagógicos e diretores inscritos. A cerimônia incluiu uma novidade: professores já premiados em eventos anteriores entregaram os troféus aos atuais. Cada um dos Educadores Nota 10 de 2012 recebeu 15 mil reais e um troféu da artista Maria Bonomi na festa conduzida pelo ator Dan Stulbach, acompanhado pelo pianista Benjamim Taubkin e pelo Núcleo de Música do Abaçaí. O show principal foi de Milton Nascimento. Mas, antes de o artista subir ao palco, o professor Alessandro de Oliveira Branco cantou As Rosas Não Falam, de Cartola (1908-1980), tema central de seu projeto.
Ailton Luiz Camargo
História / Fundamental II
Projeto: Caminhos da Colonização
EM Professora Zilma Thibes Mello
Iperó, SP
Animais abandonados no entorno da escola e questões de saúde pública chamaram a atenção do professor, que, junto com os alunos do 8º ano, iniciou o trabalho lendo um trecho da lei municipal de proteção aos animais e uma notícia de jornal sobre apreensão de aves silvestres na região. Foi o ponto de partida para tratarem da relação entre homens e animais e pesquisarem sobre economia colonial em fontes históricas. A turma analisou e comparou versões de documentos e analisou, entre outros, as pinturas de Jean Baptiste Debret (1768-1848), que retratou cenas de homens e bichos no período colonial brasileiro. Os alunos também escreveram um texto sobre maus-tratos aos animais que já haviam presenciado no bairro, debateram artigos da Declaração Universal dos Direitos dos Animais e outras leis. Por fim, cada um preparou uma carta às autoridades municipais, reivindicando o cumprimento da lei local. Dessa forma, além de relacionar passado e presente, o professor fez a turma analisar criticamente o contexto atual.
Leia a reportagem em Nova Escola: Bichos e homens através dos tempos
Alessandra Silva de Souza
Geografia / Fundamental II
Projeto: Cidadania e Criticidade: lugar, protagonismo e identidade escolar
EMEF Desembargador Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz
São Paulo, SP
Ex-aluna da escola onde dá aulas, por isso ainda ligada afetivamente ao local, a professora Alessandra percebeu que a instituição não tinha nenhum tipo de registro, ficando desprovida de memória. Foi então que decidiu envolver os alunos na leitura e escrita de textos para elaborar um jornal mural. Ela convidou os estudantes do 6º ao 9º ano para, de forma voluntária, se engajarem na publicação, batizada por eles de Figueiredo News. Pensar sobre o que ocorre ao seu redor na Geografia se relaciona ao conceito de lugar, que une paisagem e vínculos afetivos. Por meio das atividades do jornal – que incluíram análise de notícias da região, discussão, produção de textos e entrevistas – a meninada trabalhou aspectos da identidade da escola e produziu registros para documentar sua história. No trabalho, estudantes do 8º e 9º ano atuaram como monitores, auxiliando os mais novos.
Leia a reportagem em Nova Escola: Refletir e opinar sobre o cotidiano
Alessandro de Oliveira Branco
Arte / Fundamental I e II
Projeto: Cartola na cartola
Escola Municipal José Carlos Pimenta
Goiânia, GO
Com um trabalho sobre a obra de Cartola (1908-1980), o educador de Música ensinou a jovens e crianças do 1º ao 9º ano noções de ritmo, harmonia e melodia e a leitura de notação musical. Cada um aprendeu a técnica de tocar um instrumento. Quem chega à escola vê os alunos posicionados como uma orquestra, em formato de meia-lua, com os instrumentos de corda na frente e os de percussão ao fundo, tocando sambas do famoso compositor. O professor atua como maestro. Branco aproximou os estudantes da arte musical e ampliou seu repertório. Hoje eles conhecem muito mais músicas e analisam criticamente o que escutam, além de terem descoberto seu potencial. O projeto seguiu várias etapas: a análise da letra de um samba; a apreciação musical (ouvindo sambas de outros compositores também); a pesquisa sobre a vida e a obra de Cartola; a experimentação de instrumentos; a leitura das partituras e a prática instrumental e, por fim, a apresentação na escola para pais e funcionários.
Leia a reportagem em Nova Escola: Lugar de samba é dentro da escola
Antonio Oziêlton de Brito Sousa
Língua Portuguesa / Fundamental II
Projeto: Memórias todo mundo tem
Escola de Ensino Fundamental Odilon de Souza Brilhante
Ocara, CE
Em uma escola da zona rural a 100 quilômetros da capital, Fortaleza, o professor Oziêlton se deu conta de que muitos dos estudantes do 8º ano não dominavam plenamente habilidades simples como a leitura e a escrita de textos. Para reverter a situação, ele pediu aos jovens que escrevessem sobre os melhores professores que tiveram, contando por que foram marcantes em suas vidas. A linguagem formal foi trabalhada usando como base os aspectos característicos do gênero ‘memórias’. A atividade aconteceu durante todo o ano de 2011, foi intercalada com leituras de textos e de filmes do gênero, visitas à biblioteca, discussões sobre a temática e uma série de reescritas, fazendo com que os adolescentes se desenvolvessem na escrita e tomassem gosto pela leitura. Ao final do ano, os professores foram convidados para uma cerimônia na qual os alunos puderam ler seus textos em voz alta para os docentes homenageados e os colegas.
Leia a reportagem em Nova Escola: Em um ano, os alunos do 8º ano se tornaram escritores
Cristina Mara da Silva Corrêa
Educação Infantil
Projeto: Da solidez à fluidez
Creche Pré-escola Central SAS/USP
São Paulo, SP
Conhecida como Cris Mara, ela é bailarina e pesquisadora do ensino da dança, além de trabalhar Dança Criativa com as turmas de 5 e 6 anos da Educação Infantil da escola da Universidade de São Paulo (USP). Sua linha de atuação se baseia na do educador austro-húngaro em Rudolf Laban (187901958), que defendia as experimentações pelos praticantes da dança e a importância do processo no aprendizado dessa arte. Por isso, a professora propôs uma série de atividades no quintal da escola, todas elas envolvendo pedras e água. Além de juntar pedrinhas e citar brincadeiras que conheciam, as crianças entrevistaram os funcionários da escola, perguntando se brincavam com pedras e água na infância. Depois, simularam um banho de rio no meio da floresta, apenas interagindo com água em uma bacia, caminhando sobre pedrinhas e se arrastando sobre tecidos, como se nadassem. Tudo isso ao som de instrumentos de percussão e de sopro. A cada encontro, as propostas de experimentar com o corpo eram variadas permitindo às crianças dar vazão à imaginação e se movimentar.
Leia a reportagem em Nova Escola: A brincadeira virou dança. Ou o contrário?
Débora Del Bianco Barbosa Sacilotto – Gestora Nota 10
Gestão Escolar / Fundamental I
Projeto: A vez e a voz dos alunos
EMEF Francisco Cardona
Artur Nogueira, SP
A diretora Débora incorporou na rotina da escola a realização de assembleias em todas as turmas. Seu principal objetivo era diminuir os conflitos de relacionamento entre os alunos dentro da sala de aula – e que, fatalmente, iam parar na direção. A ideia partiu de uma professora do 1º ano, e quando Débora assistiu a uma experiência, ficou impressionada com a quantidade e a qualidade das questões levantadas. Buscou referências teóricas e elaborou, junto com a vice e as coordenadoras pedagógicas, um projeto institucional. Os fóruns de debate funcionam assim: antes de cada discussão, os alunos escrevem bilhetes e os depositam em envelopes. O professor lê antecipadamente e coordena a discussão em sala. O que é possível, resolve-se ali mesmo com uma votação. O restante é encaminhado à direção. As mensagens que chegavam à Débora a fizeram ampliar o projeto, pois parte das críticas e sugestões envolvia professores e funcionários e outros pedidos que resultaram em conquistas dos alunos e melhora no relacionamento entre todos na escola.
Leia a reportagem em Gestão Escolar: Assembleia escolar: a vez e a voz dos alunos
Felipe Bandoni de Oliveira – Educador do Ano
Ciências / Fundamental II – EJA
Projeto: Lua de São Jorge
Colégio Santa Cruz
São Paulo, SP
Uma sequência didática sobre a Lua, realizada com as turmas de 7º e 8º anos ganhou destaque pela forma como o professor Felipe envolveu seus alunos, muitos deles adultos migrantes que vieram a São Paulo em busca de melhores condições de vida. Ele reconheceu que os estudantes, com idades de 17 a 62 anos, poderiam construir conhecimentos científicos sobre o tema, embora acreditassem em histórias do imaginário popular envolvendo o satélite. Eles diziam, por exemplo, que na Lua se via são Jorge e que as mudanças de fases influenciam os nascimentos. O professor apresentou evidências científicas, e algumas colocavam em jogo as convicções dos alunos. Nas aulas, os estudantes redigiram suas crenças, leram textos de referência, analisaram imagens, debateram o assunto e observaram o céu à noite com ajuda de um telescópio. Foram seguidos os mesmos passos da investigação científica que são a base do trabalho de um pesquisador.
Leia a reportagem em Nova Escola: Investigações sobre a lua na EJA
Jorge Cesar Barboza Coelho
Língua Portuguesa / Fundamental II
Projeto: CBB Web TV
EMEF Borges de Medeiros
Campo Bom, RS
O professor Jorge usou a tecnologia para envolver o 9º ano nas aulas e dar novo significado à produção de texto. Junto com os jovens, ele criou uma TV online. Ao produzir as reportagens, os alunos praticaram o gênero notícia, redigiram textos argumentativos para os comentários lidos em frente à câmera e elaboraram resenhas de filmes, livros e videogames. A atividade os fez perceber as diferenças entre escrita e oralidade e a adequação a cada suporte (impresso, audiovisual e online) e público. A turma se dividiu conforme as preferências: alguns ficaram em frente às câmeras, outros fotografaram ou filmaram e há os que publicaram e descreveram os vídeos no site do projeto e nas redes sociais. Na sala de aula, o uso de celulares, internet e lousa digital colaboraram para enriquecer as discussões sobre conteúdos produzidos e novas pautas de reportagens. A utilização ativa das tecnologias, o protagonismo dos jovens e a mediação do aprendizado por Jorge foram pontos de destaque no projeto.
Leia a reportagem em Nova Escola: A aula de Português do futuro já existe e é aqui
Luciane Fernandes Ribeiro
Matemática / Fundamental I
Projeto: Jogos, operações e problemas
EMEF Professor Raimundinho
Marabá, PA
Quando se deparou com o diagnóstico inicial da turma do 4º ano, Luciane teve certeza de que seria urgente ajudar a garotada a aprender. Além de terem muita dificuldade na resolução de contas matemáticas básicas, algumas crianças não identificavam os números de 1 a 50 e outras não reconheciam termos como dúzia ou diferença. O desafio fez a professora organizar uma sequência didática em que os jogos eram as situações-problema. A docente propôs jogos com dados, boliche e argola e os alunos aprenderam a explorá-los. No boliche, por exemplo, as crianças exercitaram a multiplicação, a tabuada e a representação de expressões numéricas. Depois de brincar, elas eram instigadas a explicar para a professora e os colegas o raciocínio realizado para chegar ao resultado. Luciane também reuniu os estudantes em grupo e pediu que elaborassem questões sobre jogos para os colegas resolverem. A interação entre as crianças e a valorização de seus saberes foi fundamental para que todos avançassem.
Leia a reportagem em Nova Escola: Com jogos, a turma aprendeu a calcular
Valkiria Grun Karnopp
Matemática / Fundamental II
Projeto: Joinville e a matemática
Escola Municipal Governador Pedro Ivo Campos
Joinville, SC
A educadora apostou nos elementos da cultura local para promover o aprendizado dos alunos do 8º ano sobre polígonos. Junto com eles, Valkiria explorou os aspectos geométricos envolvidos na construção das típicas casas de enxaimel – cuja estrutura deixa a madeira aparente, encaixada na horizontal, vertical e diagonal, formando quadrados, triângulos e outras figuras. Foi um prato cheio para estudar ângulos e outros conceitos, como a área. Na sequência didática proposta pela professora, os alunos pesquisaram, discutiram conceitos e cálculos e entenderam bem a função de cada algoritmo. Os alunos foram desafiados a desenhar casas, posicionando vigas e colunas, de forma que a construção se sustentasse. Depois, memorizaram os saberes com ajuda de jogos e problemas com as figuras em situações diversas. As atividades fizeram com que eles se exercitassem no fazer matemático, buscando soluções para problemas, checando possibilidades e fazendo generalizações.
Leia a reportagem em Nova Escola: Polígonos e ângulos entre vigas e colunas
Vera Cristina Terrabuio Lucato
Arte / Fundamental II
Projeto: Revelando riquezas
EMEFEI Oscar Novakoski
Dois Córregos, SP
Apesar de a cultura rural fazer parte do dia a dia local, alguns alunos demonstravam preconceito em relação a ela. Consciente disso, Vera Cristina perseguiu um objetivo: levar os estudantes do 9º ano a fotografar o trabalhador rural de modo que, por meio da arte, eles fossem tocados pela realidade e refletissem sobre ela. O trabalho começou com a apreciação de imagens que tinham o trabalho camponês como foco, o que incluiu pesquisas sobre a obra de pintores e do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Após aulas expositivas sobre a história e os aspectos técnicos da fotografia, a docente levou os estudantes a uma saída fotográfica na feirinha do agricultor. Por fim, em grupos ou individualmente, os alunos foram liberados para clicar hortas, cafezais, canaviais, galinheiros e outros ambientes rurais. O resultado foi a mudança de olhar e a valorização do trabalho no campo, que ficou visível em uma exposição montada em um supermercado da cidade.
Leia a reportagem em Nova Escola: Para mudar o olhar e encantar a alma