Os vencedores de 2010

Na 13ª edição do Prêmio Victor Civita, uma professora de Educação Infantil leva o título de Educadora do Ano
Na Sala São Paulo, na capital paulista, mais de mil convidados presenciaram a premiação na noite de 18 de outubro, que celebrou o trabalho de 11 educadores (10 professores e uma gestora), escolhidos entre 3,4 mil inscritos. A festa, realização da Fundação Victor Civita (FVC), teve patrocínio do Grupo Positivo e apresentação do ator Vladimir Brichta. Logo no início da cerimônia, uma apresentação de força e equilíbrio foi exibida pelos artistas circenses Leon Schlosser e Edson Silva, vestidos como professores. A música deu o tom ao longo da noite, com a banda do maestro Benjamim Taubkin, o rap de Sapopemba, Marcelo Preto e Denis Duarte e a MPB de Toquinho. Seu show transformou o auditório em um afinado coral ao entoar clássicos como Tarde em Itapoã, O Caderno e, claro, Aquarela.
Enquanto isso, a responsabilidade de definir o nome do Educador do Ano ficou nas mãos de Regina Scarpa (presidente do júri e coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita), Claudio de Moura Castro (consultor da presidência do Sistema Positivo), Lino de Macedo (professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – USP e membro da Academia Paulista de Psicologia), Marcos Magalhães (presidente do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação), Mozart Neves Ramos (membro do conselho do Movimento Todos pela Educação), Thereza Penna Firme (coordenadora do Centro de Avaliação Cesgranrio) e Zilma de Moraes Ramos de Oliveira (doutora em Psicologia Experimental pela USP).
Coube a Victor Civita Neto, o Titti, do Conselho Curador da FVC, revelar o nome de Sílvia Ulisses de Jesus, professora de creche em Belo Horizonte, MG. “O projeto dela já havia nos impressionado desde o momento da seleção”, contou Regina. “Sua apresentação segura reforçou a certeza de estarmos diante de uma profissional bem formada e estudiosa, com conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil e foco na Educação, não apenas nos cuidados básicos com os bebês.” Entre as autoridades que prestigiaram a cerimônia, duas realizaram a entrega de troféus aos educadores: a senadora Fátima Cleide (PT-RO), presidente da Comissão de Educação do Senado, e César Callegari, membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Ana Cristina Santos de Paula
Arte / Fundamental II
Projeto: Centenário de Carmen Miranda
Colégio Pedro II
Rio de Janeiro, RJ
Para engajar a turma de 6º ano na aprendizagem de posições da flauta doce, a professora Ana Cristina aproveitou a trajetória de Carmem Miranda (1909-1955), que em 2009 completou 100 anos de nascimento. A sequência didática começou com uma pesquisa sobre a vida da cantora e suas principais canções. A exploração musical se deu pela experimentação do instrumento, como costuma acontecer com artistas populares. A turma tinha alunos mais experientes, que podiam tocar as músicas inteiras; já os iniciantes se concentraram nos refrãos. A professora recorreu à linguagem musical mais simples, utilizando partituras só com as sete notas sem explorar as chamadas figuras musicais, que indicam a duração do som. As crianças foram testando os tempos mais adequados durante as execuções das melodias. Como resultado, os níveis de conhecimento se aproximaram e todos mergulharam na obra de uma das intérpretes mais representativas do Brasil.
Leia a reportagem em Nova Escola: Como músicas de Carmen Miranda, a turma toda aprende o refrão e a tocar
Angélica Arroio Quiqueto de Sousa – Gestora Nota 10
Coordenação Pedagógica / Fundamental I
Projeto: Formação Continuada: uma escola de leitores
EMEF Professor Odinir Magnani
Tupã, SP
Ela superou outros 495 trabalhos inscritos na categoria Gestor. Seu projeto de leitura foi criado para ajudar os alunos de 1º a 4ª séries a se tornarem leitores literários, e para isso a coordenadora pedagógica Angélica começou pelas reuniões pedagógicas. O objetivo desses momentos de estudo não era simplesmente mostrar aos educadores como abordar a leitura em sala, mas refletir sobre a importância desse conteúdo e construir conhecimento em grupo. Conforme o projeto avançava, a observação de aulas deu origem a estratégias como a tematização da prática (análise e teorização coletiva sobre a atuação em sala) e os registros reflexivos, feitos por todos no fim de cada encontro. Ao final do processo, a EMEF se tornou uma escola em que todos leem; alunos, pais, professores e gestores compartilham leituras, confrontam autores e fazem indicações literárias.
Leia a reportagem em Gestão Escolar: Formação de professores em leitura literária
Jandira de Oliveira Costa Stand
Língua Portuguesa / Fundamental I
Projeto: Reescrita de fábulas
EMEF Humberto de Campos
São Paulo, SP
Ao analisar a qualidade dos textos da 3ª série, Jandira deu falta de muita coisa: eles não sabiam usar pontuação, paragrafação e outros recursos da escrita em prosa. Inspirada por um curso de formação continuada, a professora optou pela reescrita de fábulas, incluindo etapas como leitura coletiva, reescritas individuais e em grupo e sucessivas revisões. Também reforçou os momentos de leitura, pois são a principal forma de perceber a importância dos recursos discursivos para ditar o ritmo das histórias. Para incluir uma estudante com paralisia cerebral em processo de alfabetização, Jandira flexibilizou o desafio da escrita: propôs o uso de letras móveis e recorreu ao trabalho em grupo, pedindo a ela que ditasse o texto a um colega. No fim do projeto, as fábulas, cheias de estilo, em longas narrativas, gostosas de ler, foram reunidas em livro.
Leia a reportagem em Nova Escola: Comparação e reescrita de fábulas
Joice Mayumi Nozaki
Educação Física / Fundamental I e II
Projeto: Lutas na aula de Educação Física
EMEF Professor Mario Marques de Oliveira
São Paulo, SP
No início do ano, as turmas de 5ª e 7ª séries não sabiam apontar as diferenças entre briga e luta. Mas a professora Joice Mayumi Nozaki definiu com clareza: as lutas têm regras e objetivos próprios e fazem parte da cultura. O planejamento das aulas incluiu o ensino dos elementos que estruturam as modalidades, como equilíbrio e desequilíbrio, força, rapidez, atenção e agilidade. Para entendê-los na prática, os alunos experimentaram jogos como o braço de ferro e confrontos com bexigas (o objetivo era tentar estourar a do colega). Além da vivência do movimento, Joice investiu na pesquisa. Enquanto a 5ª série inventava brincadeiras com base nos aspectos estudados, a 7ª série procurava na internet informações sobre técnicas, histórias, vestimentas e países em que são praticados o judô, a esgrima e a capoeira. Desse modo, foi possível ampliar o leque de práticas corporais da garotada.
Leia a reportagem de Nova Escola: O lugar da luta nas aulas de Educação Física
Juliano Custódio Sobrinho
História / Fundamental II
Projeto: Baú de histórias
EM Monsenhor João de Deus Rodrigues
Petrópolis, RJ
Para ensinar a transição do trabalho escravo para o assalariado no fim do século 19, o professor Juliano propôs que os alunos do 9º ano recorressem à história de seus familiares. A proposta era recolher relatos de pais, avós e moradores antigos de Petrópolis, a 72 quilômetros do Rio de Janeiro, em busca de pistas que explicassem como a imigração europeia substituiu a mão de obra escrava na cidade. Para isso, os estudantes transitaram por todos os procedimentos necessários a uma investigação em História Oral (como a montagem da pauta de entrevistas, a coleta de depoimentos e sua análise crítica) e compreenderam como se realiza um projeto de pesquisa. Reforçado com informações de fontes escritas, o trabalho se transformou num mosaico de informações sobre a História na cidade, onde a família imperial passava o verão. Ao final, o conteúdo produzido pela turma foi entregue a um centro cultural e virou material de pesquisa para os moradores.
Leia a reportagem em Nova Escola: Como relacionar história local com a História do Brasil
Lisiane Hermann Oster
Matemática / Educação Infantil (Pré-Escola)
Projeto: O sistema de numeração e a criança pequena
Escola de Educação Infantil do Sesc
Ijuí, RS
A professora Lisiane orientou a turma na elaboração de um jogo de tipo Supertrunfo. Trata-se de um baralho que tem um tema definido (carros, por exemplo) e exibe em cada carta informações numéricas a respeito de um modelo (como velocidade e aceleração). Durante o jogo acontece a comparação de informações entre duas ou mais cartas e o jogador que tiver o número (que indica, por exemplo, o carro mais veloz) vence a rodada. Como temática, Lisiane escolheu algo bem próximo das crianças pequenas, as medidas do corpo. Os números debaixo do tênis serviram para investigar quanto calçavam; as cifras na balança correspondiam ao peso e, com uma trena, puderam descobrir sua altura. Com as informações coletadas, os pequenos confeccionaram as cartas, com os dados de cada um dos colegas. Ao jogar, eles fizeram comparações de grandezas e aprenderam como funciona o sistema de numeração.
Leia a reportagem em Nova Escola: O sistema de numeração e a criança pequena
Maria Níceas Oliveira França
Geografia / Fundamental II
Projeto: Trabalho de campo: paisagens nordestinas
EEFM Professor Arruda
Sobral, CE
Para a turma de 9º ano de Maria Níceias, a caatinga era apenas um ambiente marcado pela seca, rude e com vegetação esturricada. Apesar de ser a paisagem dominante da cidade, os alunos reproduziam o que traziam os livros didáticos. A educadora quis desconstruir essa visão e, com imagens de diferentes biomas brasileiros, debateu com a turma três conceitos – paisagem, lugar e território –, fundamentais para entender como se organiza o espaço. Em seguida, organizou saídas a campo. Numa praça próxima, a garotada analisou os elementos naturais e humanos que compunham os arredores. Mais adiante, uma viagem até a zona rural do município permitiu observar uma surpresa: a exuberância da caatinga no inverno. As árvores estavam verdes, e os açudes, cheios (diferente dos arbustos secos e cactos que os estudantes tinham no imaginário). O projeto contribuiu para uma mudança de olhar dos alunos, que passaram a entender a complexidade a paisagem nordestina.
Leia a reportagem em Nova Escola: Trabalho de campo sobre a paisagem
Paula Regina de Vargas
Arte / Fundamental I
Projeto: Desenho de árvores: ver, conhecer e recriar
EMEF Adolfo Schüler
Montenegro, RS
A intenção do projeto foi mostrar para as crianças do 1º ano que elas podiam confiar nas próprias criações. A professora Paula se incomodava com a resistência delas ao desenhar. Além de reclamar da falta de modelos para reproduzir, os alunos elaboravam obras muito parecidas entre si. Para mostrar que cada artista tem seu percurso criador, Paula preparou uma sequência didática com foco na representação de árvores. Apresentou quadros de artistas que traziam a vegetação como um elemento de destaque, de Piet Mondrian a Tarsila do Amaral, passando por pintores e escultores gaúchos, como Iberê Camargo. Para aprofundar o trabalho, a professora levou as crianças a um parque da cidade, mostrando que na natureza não havia árvores com apenas uma aparência. Estimulados pelas novas referências e por debates em grupo, os alunos produziram uma série de desenhos e colagens sobre o tema.
Leia a reportagem de Nova Escola: O percurso do desenho livre de estereótipos
Rosana Helena Brocco Zaffalon
Ciências / Fundamental I
Projeto: Dengue mata, tô fora!
EMEB Thiago Aranda Martin
Sinop, MT
Em 2009, a cidade de Sinop, a 508 quilômetros de Cuiabá, viveu um surto de dengue. O problema chamou a atenção da professora Rosana, ela própria acometida pela doença duas vezes. Para que a classe do 5º ano investigasse as causas da enfermidade, a educadora preparou um projeto que contemplou as principais etapas de uma investigação científica. Ela levou a turma a mapear os bairros mais afetados (com base em tabelas de incidência iguais às usadas pelos especialistas), ajudou a construir questionários para entrevistar biólogos e organizou observações no microscópio. A turma pode conferir as fases do vetor da doença, o Aedes aegypti (ovo, larva, pupa e mosquito), percebeu que só a fêmea pica e discutiu diferenças entre vírus e bactérias. Ao final do processo, os estudantes perceberam que as alterações ambientais são um fator determinante para impulsionar a doença.
Leia a reportagem em Nova Escola: Estudantes se tornam pequenos cientistas
Rosilene Anevan Fagundes
Matemática/ Fundamental II
Projeto: Função afim na resolução de problemas
Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato
Pinhais, PR
O currículo do 8ª ano trazia a recomendação de trabalhar o conceito de função afim, uma expressão do tipo y = ax + b. Se para quem não é da área o assunto soa complicado, imagine a dificuldade dos alunos, que nem sequer conheciam os requisitos para explorar o tema. Decidida a avançar sem deixar ninguém para trás, a professora Rosilene planejou atividades de recuperação sobre equações de 1º grau, potenciação e sistema cartesiano. Paralelamente, deu largada ao conteúdo, abordando a noção de dependência entre duas variáveis e orientando a construção de gráficos. Estimulados a pesquisar a função afim no cotidiano, os estudantes a encontraram em diversas atividades comerciais. Num restaurante por quilo, por exemplo, a fórmula y = ax + b expressa a conta (y) de um cliente que pagou um couvert fixo de entrada (b) e mais um valor (a) multiplicado pelo peso consumido (x).
Leia a reportagem em Nova Escola: O jeito certo de ensinar a função afim
Sílvia Ulisses de Jesus – Educadora do Ano
Educação Infantil / Creche
Projeto: Creche: espaço de aprendizagem
UMEI Pedreira Padre Lopes
Belo Horizonte, MG
O principal desafio de Sílvia era desmistificar a creche como espaço só para cuidado dos bebês. Por isso, cada atividade planejada era baseada em ação educativa. Nessa fase, os pequenos exploram o ambiente e descobrem os limites e a unidade do próprio corpo, desenvolvendo a consciência corporal. Sua capacidade de reconhecer partes do corpo, sustentar-se sentados e depois em pé, até que procurem formas de locomoção, como engatinhar, por exemplo, eram acompanhados pela educadora e sua equipe. Do mesmo modo, estavam atentas à comunicação dos bebês, que acontece por meio de gestos, sinais e da linguagem corporal, que apoiam sua linguagem oral, geralmente composta de sons articulados. Para facilitar as observações, a professora criou uma tabela, onde estava anotado o que se espera de um bebê de 6 meses, de 8 meses ou 1 ano. Estímulos como sachês de cheiro, pintura com tintas comestíveis e um tapete sensorial, que possibilita à criança entrar em contato com texturas e sons diferentes, fazem parte da rotina da creche. Já a hora do soninho é livre, respeitando as necessidades e a individualidade de cada bebê.
Leia a reportagem de Nova Escola: Creche: espaço de aprendizagem