Conheça os finalistas do 23º Prêmio Educador Nota 10!

Os projetos selecionados em 2020 vieram de 19 estados e abrangem da Educação Infantil ao Ensino Médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conheça abaixo os trabalhos dos 40 educadores finalistas com atuação de excelência, que contribuem para a qualidade da Educação Básica brasileira. Os 10 vencedores deste ano você confere aqui.
Adriana Aparecida SchimiguelGeografia – 9º ano / Anos Finais do EF (EJA)
Projeto: O desenvolvimento urbano do município de Itapema
Escola: CEMEJA de Itapema
Itapema, SC

Os alunos de Adriana chegaram a Itapema, no litoral catarinense, em busca de qualidade de vida, sonhos ou sobrevivência, vindos do Pará, Alagoas, Rondônia, Rio Grande do Sul, São Paulo… A professora relacionou a migração à expansão urbana da cidade e levou jovens e adultos a compreenderem dados oficiais do IBGE-SIDRA e da PNAD e conceitos como trabalho precarizado e exclusão socioespacial. Uma lousa digital com acesso à internet favoreceu a proposta didática, pois os estudantes manejaram dados de forma interativa e em tempo real. Produziram, por exemplo, um censo local adaptando uma planilha do IBGE e um mapa que sinalizava os fluxos migratórios a partir dos estados de origem. O projeto criou vínculo afetivo por meio da escrita da “Geografia da Saudade”, uma redação onde recontaram seu processo de desterritorialização e reterritorialização. As atividades fizeram os alunos reconhecer que as trajetórias de vida são determinadas pelo contexto, deslocando-os da posição de atingidos pela desigualdade a sujeitos transformadores da configuração social e urbana do município.
Alessandra Giriboni de Oliveira
Gestão – Coordenação Pedagógica / Creche
Projeto: Adultos sensíveis enxergam as experiências infantis
Creche: EMEB Bernardo Pedroso
São Bernardo do Campo, SP

“Meu olhar mudou, sou mais sensível e quero aprimorar essa habilidade de entender o que o outro está me dizendo, mesmo que não se utilize de palavras.” Essa fala é de uma professora da equipe de Alessandra. A formação continuada organizada pela coordenadora pedagógica na creche sensibilizou os adultos em vivências que envolvem o corpo, como tentar capturar o vento no jardim e observar a própria sombra em um ateliê de luz (com lanternas e espelhos). Também incluiu estudos teóricos sobre pedagogias participativas e a análise coletiva de cenas da rotina dos bebês. Seu objetivo principal: fazer professoras e auxiliares fortalecerem a identidade de educadoras da primeiríssima infância. Além de enriquecer o brincar livre das crianças, oferecendo objetos e elementos da natureza, a equipe aprimorou os registros com fotos e escrita de mini-histórias. As educadoras foram ganhando cada vez mais segurança sobre suas ações na creche, a ponto de apresentarem oito projetos na Semana de Educação do município, expondo suas experiências e os saberes adquiridos.
Ana Paula CarnevaleHistória – 2º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Patrimônio cultural da cidade de Hortolândia – pioneiros da Catira
Escola: EMEF Profa. Lilian Cristiane Martins de Araújo
Hortolândia, SP

Ana Paula teve a sensibilidade de escolher a Catira, uma dança dos tempos coloniais, para despertar nos alunos a importância de valorizar o patrimônio cultural de Hortolândia. O trabalho propiciou a integração de crianças de 7 e 8 anos com pessoas mais velhas, com trocas de conhecimentos, abordando de uma maneira leve temas como memória, cultura, história e patrimônio. O Mestre Chiquinho, do grupo Pioneiros do Catira, interagiu com as crianças semanalmente, conversando, contando histórias e ensinando a dançar. Assistindo a vídeos, a turma também observou características de outros grupos de Catira. Uma apresentação na escola reuniu, ao som de moda de viola, as duas gerações – crianças com a psicomotricidade em desenvolvimento e idosos – batendo palmas e pés no mesmo compasso. A plateia, em especial os mais velhos, se envolveu acompanhando o ritmo, evidenciando o Catira como parte de sua cultura, o que tornou ainda mais significativo o resgate desta tradição.
Andrea Mendes Avona
Arte – 9º ano / Anos Finais do EF
Projeto: Arte presente
Escola: Colégio Municipal Profa. Benedita Odette de Morais Savoia
Santana de Parnaíba, SP

Ampliar o conhecimento e o repertório de produção artística e despertar a sensibilidade para a criação foram os objetivos cumpridos pela professora Andrea com seus alunos do 9º ano. Ela planejou estratégias diversificadas como apreciações (por meio de livros, vídeos, sites, obras de arte originais e jogos), produções artísticas individuais e coletivas e escrita de textos reflexivos das vivências ao longo do ano. Uma experiência que se desdobrou foi a visita à exposição Tarsila e ao acervo do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Na volta, fotos da interação dos estudantes com as obras geraram ampliações que foram expostas na escola. Motivados por uma criação contemporânea apreciada no museu, os alunos organizaram uma oficina de arte para o 7º ano. Depois, pintaram elementos de quadros de artistas preferidos sobre guarda-chuvas brancos e saíram pelas ruas de Santana do Parnaíba, em uma exposição itinerante, mostrando aos passantes que a arte é acessível e para todos.
Andreia SimonLíngua Portuguesa – 2º a 5º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Rádio escolar
Escola: EM Prof. Luiz Biela de Souza
Jundiaí, SP

Nessa escola de tempo integral, as oficinas de comunicação ficaram a cargo de Andreia, que orientou a produção de materiais para a rádio escolar. A proposta envolveu linguagem oral e escrita, abarcando pesquisas e leituras de reportagens em mídias digitais; sínteses das notícias; planejamento e captação de entrevistas breves; elaboração do roteiro da programação; pesquisa de uma curiosidade e produção de texto curto sobre a mesma; seleção musical; ensaios e a apresentação do programa de rádio. As trocas entre as crianças foram muito potentes, pois as que eram leitoras e escritoras mais experientes atuaram como tutoras, sob orientação da professora, das menos experientes: ofertaram apoios, liam trechos mais complexos em voz alta e davam dicas para a escrever. O
s avanços foram notados pelas professoras das aulas regulares, em especial no aumento da confiança e da competência dos alunos na comunicação oral, na leitura e na escrita.
Chalimar da Rosa
Crianças bem pequenas – 2 a 3 anos / Educação Infantil
Projeto: As surpresas dos buracos – vida e potência das minhocas
Creche: EMEI Vó Olga
Mato Leitão, RS

Chalimar garante a sua turma o direito de conhecer e apropriar-se do entorno, pôr a mão na terra, aprender sobre animais e suas características, aprender sobre si, explorar, brincar e expressar-se. Em caminhadas fora da escola, um dia alguém perguntou “Tem vida neste buraco?”, em seguida começaram a cavar e acharam um bichinho que aguçou o interesse de todos – a minhoca. Em pesquisas, descobriram que o anelídeo pode ter mais de cinco corações e escava até cinco metros de túneis. A partir daí, as crianças se divertiram escavando buracos na pracinha, medindo e comparando (amigos, professoras, minhocas, túneis…) com ajuda de cordão, régua ou fita métrica. Montaram em conjunto um minhocário, preocupando-se com terra, água e alimentação das minhocas. A terrinha fértil resultante era entregue para outra turma, que a utilizava na horta. Fotos e vídeos enviados pela professora revelam a qualidade da experiência vivida pelas crianças. Elas conversam com desenvoltura sobre o que aprenderam e revisitam os portfólios junto com as famílias, mostrando alegria e encantamento.
Cybele Câmara da Silva
Educação Física – 4º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Práticas corporais de aventura na escola
Escola: Escola Municipal João Paulo II
Natal, RN

Cybele fez os alunos do 4º ano experimentarem as sensações da escalada por meio de atividades lúdicas e jogos, adaptando as estruturas e os equipamentos da própria escola. As Práticas Corporais de Aventura (PCA), sugeridas na BNCC para os anos finais do Ensino Fundamental, foram dimensionadas adequadamente para a idade. A professora partiu de situações comuns para as crianças, como pendurar-se em galhos, subir e descer das árvores, dos muros e de alambrados das quadras nos recreios e planejou dez aulas. Em um diário de campo, anotou suas intervenções, as falas e sugestões das crianças e os ajustes necessários. Também registrou a preparação e a participação dos alunos durante um evento escolar, em que foram monitores de um Espaço de Aventuras composto por vários equipamentos, entre eles uma rede de pneus para escalada, construída de forma colaborativa. Para resumir o projeto, Cybele montou um quadro resumo com unidades temáticas, objetos de conhecimento, objetivos, estratégias e habilidades trabalhadas e os momentos avaliativos.
Daiana Campani
Língua Portuguesa – 1° ano / Ensino Médio
Projeto: Divulgação científica: um compromisso
Escola: FET Liberato Salzano Vieira da Cunha
Novo Hamburgo, RS

Professora em uma escola de Ensino Médio técnico que recebe muitos visitantes em sua tradicional Feira de Ciências, Daiana sentiu necessidade de tornar acessíveis para um público jovem e leigo os projetos de pesquisa apresentados. Planejou uma proposta para os estudantes escreverem “notícias de divulgação científica”, um gênero direcionado para um leitor não especializado, que pede uma linguagem leve e clara e que procura explicar os sentidos de expressões científicas. Em outras palavras, Daiana ensinou aos alunos que é importante adequar a linguagem a um público alvo. Depois de ler e analisar textos de divulgação científica, os alunos escolheram um trabalho da Feira de Ciências, entrevistaram seus autores e escreveram a primeira versão da notícia. Após um processo de revisão, que focalizava a aplicação das estratégias de persuasão, foi elaborada uma segunda versão. Por fim, algumas das notícias foram publicadas no jornal da cidade. Daiana espera que parte dos estudantes siga carreira científica e que percebam a importância do diálogo entre ciência e sociedade.
Danieli de Oliveira Biolchi
História – 9º ano / Anos Finais do EF
Projeto: A literatura e a música: os anos que seguiram 64
Escola: EEEF Centenário
Ijuí, RS

Entrevistas, literatura, HQ, música, filmes, jornais de época e pesquisa na internet. Todas essas fontes de informação serviram para que os alunos de Danieli estudassem o regime militar – assunto atual e polêmico. O pontapé inicial do projeto foi um questionário enviado às famílias para apurar como enxergavam a ditadura no Brasil. Algumas tinham memórias e opinião formada, outras não. A professora então mostrou depoimentos em vídeo sobre torturas e filmes como Batismo de Sangue, O ano em que meus pais saíram de férias e Zuzu Angel, que retratam situações de repressão da época. Os estudantes ouviram canções icônicas e fizeram leituras em revistas e livros para compreender melhor a violação dos direitos humanos e do cidadão que persistiu por 21 anos no país. Em seminários, explicaram conceitos como ditadura, regime autoritário e estado democrático. Com ideias criativas, elaboraram um musical para expressar sua visão sobre o tema, embalado por músicas da década de 1970. A apresentação teatral foi feita na escola e em outras mostras pelo estado.
Edijane Amaral SilvaGeografia – 1º e 2º ano / Ensino Médio
Projeto: Cerrado vivo
Escola: CEM Taguatinga Norte
Taguatinga, DF

O Cerrado, segundo maior bioma em extensão territorial no Brasil perdeu nas últimas décadas 80% de sua cobertura original. Como não foi incluído na Constituição Federal como patrimônio nacional, não há lei específica para sua proteção, por isso preservá-lo depende de sensibilizar para essa causa. Instigados por Edijane, seus alunos realizam pesquisas no laboratório de informática, organizam um diário de bordo e escolhem os temas que vão investigar. O trabalho de campo é central no projeto e se divide em uma visita ao Jardim Botânico de Brasília e outras três saídas à Reserva Privada do Patrimônio Natural Chapada Imperial. Os estudantes realizam observações, registram dados da paisagem em caderno de campo e aprofundam as pesquisas na internet sobre aspectos do bioma (como composição florística, solos, relevo, clima e fauna). Com os dados coletados, organizam quadros científicos, produzem textos, gravam vídeos e fazem discussões sobre problemas socioambientais. Por fim, socializam o que estudaram em uma mostra para que todos compreendam o Cerrado como é e porque não deve desaparecer.
Edilaine Cristina Manoel Joaquim
Ciências – 4º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Guardiões das colmeias – preservando e inovando
Escola: EM Pró-Morar Barigui
Curitiba, PR

O declínio de colônias de abelhas, observado em diversas partes do mundo, foi um dos fatores que impulsionaram o projeto. O outro foram duas invasões de enxames na escola. Edilaine percebeu o medo das crianças e elaborou estratégias para que reconhecessem a necessidade de preservar as abelhas. Uma delas foi levar os alunos ao Museu de História Natural, onde conheceram o projeto da prefeitura “Jardins de Mel”. Conseguiu a parceria do biólogo responsável (Felipe Thiago de Jesus) e a colaboração do sr. Tito, um amigo da escola, para a construção de caixas adequadas para abrigar uma colmeia de abelhas nativas Jataí (sem ferrão) no jardim da unidade. Inovadora, a professora lançou mão de metodologias ativas: os alunos viram detalhes de insetos em 3D com um aplicativo, construíram maquetes da estrutura da colmeia com recicláveis e um exoesqueleto de palitos de madeira, além de protótipos de abelhas robôs para simular a dança que performam para se comunicar. Com desenvoltura, as crianças apresentaram o projeto para políticos e em feiras de Ciências municipais e regionais.
Elaine da Silva Santana
Crianças Pequenas – 4 e 5 anos / Educação Infantil
Projeto: Tramas e territórios
Escola: EMEI Prof. Alceu Maynard de Araújo
São Paulo, SP

Boa parte da turma de Elaine é migrante ou descendente de pais nascidos na Bolívia, Paraguai, Peru e Argentina, empregados nas confecções do bairro do Bom Retiro e com uma rotina de trabalho que muitas vezes inclui os finais de semana, o que os impede de usufruir de territórios e equipamentos públicos. Sabendo que os tecidos têm um significado importante na vida de grande parte de seus alunos, a professora os coloca em contato com trabalhos de artistas contemporâneos que utilizam materiais têxteis como linguagens de expressão e cuja produção dialoga com questões de identidade e memória. Com formação em Artes, a professora organizou visita às exposições Ernesto Neto: Sopro, na Pinacoteca, e Linhas da Vida, da artista japonesa Chirahu Shiota, no CCBB. Em sala de aula, os alunos realizaram propostas em diversas linguagens artísticas, incluindo o bordado. No dia da Mostra Cultural da escola, a turma fez uma intervenção na praça em frente, com tecidos trazidos de casa e bordados realizados por crianças, educadoras e famílias.
Elias Azevedo
Geografia – 1º Ano/ Ensino Médio
Projeto: A importância da cartografia tátil na educação inclusiva
Escola: EE João Brásio
Panorama, SP

Cada vez mais utilizamos mapas para localizar, orientar e informar, e a maior parte das representações gráficas disponíveis está em formato impresso ou digital, o que significa inacessibilidade por pessoas cegas ou com baixa visão. Existe uma grande barreira no desenvolvimento do pensamento espacial para elas, pois precisam de recursos para conseguir compreender as representações do espaço geográfico e as abstrações sinalizadas nos mapas. Neste projeto, Elias desafiou a turma do 1º ano do Ensino Médio a produzir um atlas para Heloisa Vitória, aluna que tem deficiência visual e cursa o 6º ano da mesma escola. Os estudantes se envolveram em um trabalho colaborativo de pesquisas para a produção artesanal de mapas táteis. Para isso, revisitaram conteúdos da linguagem, das escalas e dos fenômenos e puderam estudar e conversar sobre a educação inclusiva. Em oficinas, elaboraram mapas variados e geográficos (bacia hidrográfica, biomas brasileiros, tipos de clima etc.), com materiais recicláveis. Como resultado, todos aprenderam mais sobre cartografia e inclusão.
Fabíola Siqueira Pinto
História – 5º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Projeto Forte das Cinco Pontas
Escola: EM Oswaldo Lima Filho
Recife, PE

A curiosidade dos alunos pelo Forte das Cinco Pontas, construção erguida por holandeses em 1630, orientou o trabalho de Fabíola. “Por que, afinal, o tal forte só tem quatro pontas?”, perguntavam. A professora debateu com as crianças as etapas de desenvolvimento de um projeto, propondo que levantassem hipóteses, sugerissem questões norteadoras e atividades de estudos. Uma delas foi a visita ao Museu da Cidade do Recife, localizado no forte, para pesquisar as transformações sofridas no prédio e seus usos ao longo dos anos. A partir daí, os estudantes buscaram informações complementares em sites como o da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) e do próprio museu e viram um vídeo selecionado por Fabíola para obter respostas para suas indagações. Em 3 meses de projeto, aprenderam metodologias de pesquisa científica, conheceram mais sobre a história local e compreenderam a importância da preservação do patrimônio, além de socializar os conhecimentos adquiridos em duas feiras de cultura.
Geremias Dourado da Cunha
Biologia – 3º ano/ Ensino Médio
Projeto: Amazônia em chamas: os malefícios do desmatamento e das queimadas
Escola: EEEFM Coronel Jorge Teixeira de Oliveira
Ji-Paraná, RO

Em época de muitas queimadas em Rondônia, o professor Geremias trabalhou a temática com seus alunos da EJA, a maioria deles pequenos produtores rurais que acessam informações, principalmente, via redes sociais. Procurou discutir com o grupo a importância da preservação e conservação da biodiversidade, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais na sustentabilidade do planeta. Primeiro, propôs a produção de maquetes para resgatar memórias dos estudantes em relação ao local onde vivem. Depois, a turma entrou em contato dados atualizados sobre queimadas e desmatamento do site do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). As práticas de leitura e escrita foram centrais no projeto: Geremias cuidou para que jovens e adultos desenvolvessem habilidades de interpretação de gráficos e de textos jornalísticos, além de estimular redações, em parceria com a professora de Língua Portuguesa. Os estudantes puderam relacionar conhecimentos de Matemática e Química e ter uma visão integral sobre os problemas decorrentes da degradação do ambiente.
Hamilton Gonçalves BarbosaEducação Física – 4º ano / Anos
Iniciais do EF
Projeto: Enfrentando o machismo e o preconceito na participação do futebol
Escola: EM Deputado Jorge Ferraz
Contagem, MG

“Ela é boa, joga igual menino.” Essa frase comum revela a carga de machismo associada ao futebol. Atento ao problema da desigualdade de gênero no esporte, Hamilton redirecionou seu planejamento depois de um estudante contar sobre o apelido de sua mãe, Maria Homem, por ser a única menina a jogar no time da rua em sua época. O projeto contemplou discussões, reflexões e práticas que incentivam a presença, o acolhimento, o encorajamento e a participação das meninas no futebol. Várias etapas deram conta do desafio. Pesquisas na família sobre variações do esporte praticadas na infância de pais e avós geraram aulas sobre brincadeiras de futebol, apresentadas por grupos de alunos. Depois, várias versões do jogo foram testadas em quadra. Para incentivar o envolvimento de todos, o professor confeccionou um álbum de figurinhas com imagens das crianças e de funcionários da escola. Por fim, a turma produziu um painel com frases preconceituosas que não querem mais escutar no futebol e outro com as que querem ouvir mais, para combater a exclusão das meninas nas práticas esportivas.
Hecionéia Rocha Vieira Bassetto
Língua Portuguesa – 3º / Anos Iniciais do EF
Projeto: O meu conto, eu (re)conto
Escola: EE José dos Santos
Aspásia, SP

Escrever com qualidade é uma habilidade que se aprende e se ensina. E a professora Neia concretiza essa afirmação com sua turma de 3º ano. Para que as crianças escrevessem mais e melhor, propôs a reescrita de contos com mudança de foco narrativo, com um dos personagens como narrador. A história da Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, contada sob a ótica do lobo. A ideia não é original – já foi indicada pelas educadoras Emilia Ferreiro e Ana Siro – mas constitui um desafio, em especial nessa fase da escolaridade. Exigiu que a professora guiasse os alunos pelas etapas de produção de um texto: ampliação de repertório, planejamento, textualização, revisão e edição. Para ter sucesso na sequência, é necessário ter didática, conhecimento sobre a língua e sobre os processos de aprendizagem, aspectos dominados pela professora. Neia planejou as sessões de revisão de forma criteriosa e assim as crianças puderam retomar seus textos, refletir sobre eles, ler criticamente os contos dos colegas, discutir em duplas e aprimorar os escritos, que compuseram uma coletânea para a biblioteca da escola.
Katiene Santos Paes
Matemática – 5º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: A luz da Matemática
Escola: EMEB Liége Gama Rocha
Coruripe, AL

A professora desafiou a turma a analisar as contas de energia elétrica e a identificar os dados matemáticos presentes nelas. Assim, meninos e meninas investigaram o consumo e a voltagem dos equipamentos eletrônicos de suas casas e compreenderam as diferentes taxas de cobrança de energia, relacionadas à cor da bandeira tarifária. Também pesquisaram sobre produção energética e visitaram a usina da região, que gera eletricidade a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. Katiene propôs trabalho em grupos e situações para serem discutidas e validadas coletivamente. Os alunos puderam apresentar as suas soluções, explicar seus percursos, argumentar e ouvir as opiniões dos colegas e rever suas hipóteses iniciais. Ao final das discussões, os estudantes elaboraram um modelo matemático para calcular o consumo. Concluindo que o valor da conta de luz é diretamente proporcional ao tempo de utilização dos aparelhos elétricos, entenderam como se dá a cobrança e refletiram sobre o consumo de energia tanto em suas residências como no ambiente escolar.
Keiliane Almeida de Oliveira
Química – 2º ano / Ensino Médio
Projeto: Dessalinizador solar de baixo custo: uma alternativa sustentável
Escola: Colégio Estadual Quilombola de São Tomé
Campo Formoso, BA

Desprovido de saneamento básico, o povoado de São Tomé, no Semiárido baiano, é a morada de uma comunidade quilombola que convive diariamente com a carência de água de boa qualidade, até mesmo nos bebedouros da escola, onde o líquido é salobro. Keiliane resolveu associar conhecimentos de química ao cotidiano, incentivando sua turma a pesquisar e apresentar soluções para essa situação-problema. Os jovens iniciaram elaborando questionários que foram respondidos pela comunidade, permitindo compreender as necessidades da população. Depois, montaram maquetes para ilustrar fontes renováveis de energia, estudá-las e decidir qual usar no protótipo de um dessalinizador da água. O resultado – um produto simples, barato e de fácil construção, movido a energia solar – foi exposto em feiras de Ciências na região. Ao longo do trabalho, alunas e alunos aprenderam conceitos importantes como Química Verde, ações antrópicas e impactos ambientais e formação e constituição química do relevo local.
Lidiane Possamai
Língua Portuguesa – 2º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Mensagens viajantes: costurando histórias, desdobrando memórias
Escola: EM Madre Boaventura
Francisco Beltrão, PR

“Uma carta não pode falar com voz, mas fala com palavras e as palavras formam uma conversa escrita.” Essa reflexão foi feita por um aluno do 2º ano da professora Lidiane. O projeto sobre esse gênero, pouco conhecido da infância de hoje, levou a turma do sudoeste paranaense a se corresponder com crianças de Guimarânia, MG e de Salvador, BA. Lidiane organizou atividades para todos evoluírem na produção de textos e compartilharem aspectos da cultura da região Sul. Em troca, conheceram costumes das localidades no Nordeste e no Sudeste. A professora se preocupou com as diferentes etapas do processo da escrita de cartas, com referências e problematizações anteriores ao ato de redigir. Também acompanhou as produções individuais, com sugestões que levaram em conta as possibilidades de cada um. Além de favorecer habilidades de comunicação, o projeto acrescentou às crianças autoconfiança e respeito a diversidades culturais e sociais.
Luana Camila de Souza Lima
Língua estrangeira – Inglês – 4º e 5º ano / Anos Finais do EF
Projeto: A música como instrumento inclusivo no ensino da língua inglesa
Escola: EM Prof. Waldir Garcia
Manaus, AM

A música serviu como instrumento de inclusão no projeto de Luana. Além de canções em inglês, trouxe outras em espanhol e em francês crioulo e abriu rodas de conversas para que as crianças estrangeiras pudessem falar sobre suas famílias, sua cultura e sua língua. Em uma escola multicultural, montou um coral que se consagrou na rede pública de Manaus após seis meses de ensaios. Um dos méritos da professora foi inserir elementos culturais nas aulas sem, no entanto, abrir mão de conteúdos programáticos da série e da disciplina. Ela reservou uma aula semanal para trabalhar o currículo de língua inglesa e a outra para os encontros do coral. Para legitimar a prática do canto de forma mais efetiva, convidou um estudante de música da Universidade Estadual do Amazonas para contribuir. Ele esteve presente em todos os ensaios, que resultaram em apresentações surpreendentes. Preocupada com os usos das línguas no cotidiano da escola, Luana construiu com seus alunos placas de orientação do espaço em todos os idiomas falados no local: português, inglês, francês criolo e espanhol.
Manoel Reildo Cerdeira dos Santos
Matemática – 2º ano / Ensino Médio
Projeto: Bioeconomia: a essência da perfumaria e da aprendizagem matemática
Escola: EE Major Alcides Rodrigues dos Santos
Boa Vista, RR

Em uma escola orientada para projetos empreendedores e adepta da abordagem STEAM (Ciência, Tecnologia, Artes e Matemática), Manoel acompanhou os alunos na produção de perfumes e colônias. O uso de conhecimentos matemáticos permeou o trabalho, como a tabulação de dados de pesquisa e o cálculo de medidas e porcentagens para efetuar as misturas. Frascos de laboratório e embalagens serviram de contexto para o estudo dos sólidos e seus volumes. Com protagonismo de sobra, os estudantes montaram um destilador para a prática do experimento em público, que foi apresentado em um festival de Educação Matemática e em feiras de Ciências. Para completar, criaram um Fanzine Matemático com questões em torno dos conteúdos aprendidos, que virou material pedagógico para motivar alunos de outros anos. Vídeos e fotos do projeto alimentaram um blog criado pela turma. O professor teve um olhar cuidadoso para as aprendizagens e deu abertura para que todos se expressassem, orientando, ao mesmo tempo, para a correção da linguagem matemática e seus procedimentos.
Marcelia Leal Silva
Língua estrangeira – 7º a 9º ano – Inglês / Anos Finais do EF
Projeto: Reggae: uma arte de resistência
Escola: UI Maria do Carmo Abreu da Silveira
São Luís, MA

São Luís é considerada a capital brasileira do reggae, o que motivou Marcelia a conhecer com as turmas de 7os, 8os e 9os anos a história desse gênero musical. Um dos seus objetivos foi quebrar preconceitos, inclusive raciais, que cercam essa manifestação cultural, reconhecida como patrimônio imaterial pela UNESCO. Durante três meses, a professora envolveu meninos e meninas em sequências didáticas repletas de canções de reggae jamaicano e nacional. O ponto alto foram as recepções para dez bandas visitantes: cada semana uma sala recebia artistas convidados para um diálogo. Nessas ocasiões, os estudantes decoravam a sala, cantavam, declamavam poemas e presenteavam os homenageados com produções escritas ou artísticas. O esmero com a organização fez o trabalho extrapolar a língua inglesa, que, entre outras aprendizagens, levou à melhora de compreensão oral e de vocabulário e da pronúncia, pois os adolescentes entoavam todas as letras. O projeto incluiu uma visita ao Museu do Reggae e um festival na quadra da escola, com presença de músicos do movimento regueiro maranhense.
Marcelo Inocêncio Pereira da Costa
Educação Física – 2º ano / Ensino Médio
Projeto: Exercendo a autonomia para um estilo de vida ativo
Escola: Colégio Estadual Emílio de Menezes
Curitiba, PR

Ao identificar a desmotivação da turma em praticar os mesmos esportes da rotina escolar ano após ano, Marcelo incentivou a participação ativa e o desenvolvimento de atitudes protagonistas. Pediu que os estudantes se dividissem em grupos de até 10 integrantes e elegessem um “novo” esporte de possível estudo e prática no espaço escolar. Daí em diante, os alunos se colocaram no papel do professor: pesquisaram, desenharam esquemas, planejaram, juntaram materiais e passaram seus conhecimentos aos demais colegas durante as aulas. Assim, todos tiveram contato com modalidades esportivas como atletismo, boliche, vôlei e tênis de praia, tênis de mesa, badminton e atividades como slackline e ioga. Com autonomia, um grupo que tinha um menino com baixa visão ligou para o Instituto Paranaense de Cegos e, depois de conhecer o futebol de cinco e confeccionar uma bola com guizo, ensinou o jogo para a turma toda. A proposta do professor repercutiu de forma tão positiva na escola que a área de Educação Física revisou o currículo para ampliar a oferta de práticas da cultura corporal de movimento.
Márcia Elisa Fernandes Gonçalves
História – 3º ano / Ensino Médio
Projeto: Vozes populares: um retrato de gente e suas impressões
Escola: EE Dr. Antônio Batista do Nascimento
Piedade do Rio Grande, MG

“A biquinha tem história, é de lá que saia a água para o arraial inteiro.” A frase, dita por um senhor entrevistado por alunos de Márcia Elisa e gravada em vídeo, dá ideia do que são os registros orais. Como muitas do Brasil, a cidade com cerca de 5 mil habitantes em que fica a escola guarda pouca documentação histórica. Assim, a professora mobilizou os jovens para o resgate de relatos da comunidade e pavimentou um caminho de construção de identidade e de intensificação de laços afetivos com o local. Os estudantes elaboraram questionários para saber sobre a infância, a adolescência e a fase adulta de avós e conhecidos. Depois de coletar as entrevistas, editaram vídeos com subtemas como escola, festas, trabalho e lugares, entendendo como a vila funcionava no passado e percebendo a subjetividade nos depoimentos. Oficinas de filmagem oferecidas pelo professor de Artes ajudaram a qualificar as gravações, que, junto com os trabalhos escritos pelos alunos, hoje enriquecem o acervo existente no município.
Maria Betânia Vasconcelos de Lima
Gestão Escolar – Diretora / Anos Finais do EF
Projeto: Vós tendes voz, sois o grêmio estudantil
Escola: EMEB Engenheiro Guttemberg Brêda Neto
Coruripe, AL

Não bastam bons profissionais para que haja coesão e interação dentro da escola. Um trabalho coletivo de fato conta com o envolvimento e a corresponsabilidade dos alunos. Em 2019, estimulada pela Secretaria de Educação, a diretora Maria Betânia liderou um consistente processo de implantação do grêmio, acreditando na potencialidade dos estudantes para se envolverem em reivindicações sociais, culturais, políticas e educacionais. Desde o início, engajou os alunos, que surpreenderam com expressivas campanhas. Os “candidatos” do 6º ano foram eleitos e logo começaram a concretizar suas “promessas”, como estabelecer parceria com outras escolas e com a Unidade Básica de Saúde (UBS) e levantar as necessidades dos estudantes e de suas famílias. Foram até a Câmara Municipal para defender um plano de ações e conseguiram recursos! Segundo a diretora, o grêmio estudantil era a voz faltava: tudo que a equipe vinha defendendo ganhou uma força jovem, um novo gás, e todos se energizaram. A motivação dos alunos também aumentou, já que no final do ano 100% das matrículas foram renovadas.
Marilene da Mota Costa
Gestão – Coordenação Pedagógica / Anos Iniciais do EF
Projeto: Formação continuada de professores no contexto de escola
Escola: EMEF Vinicius de Moraes
Itupiranga, PA

Marilene transformou a Vinicius de Moraes, uma escola do campo situada no assentamento da reforma agrária Rio da Esquerda, no interior do Pará, em local de formação permanente. Como havia muitas dificuldades relacionadas à aprendizagem e ao ensino da leitura, elas foram tomadas como ponto de partida para a organização de um plano de formação. De modo coletivo, em grupos ou individual, a coordenadora orientou os professores em estudos sobre o ensino de leitura e estratégias metodológicas que impactaram positivamente na proficiência dos alunos. Não só eles, mas também os profissionais e familiares passaram a ler muito mais, e a escola já foi vencedora do Prêmio Itupiranga de Literatura nas categorias de alunos e professores. O projeto de Marilene é um exemplo importante de como considerar as necessidades dos professores em relação à docência na elaboração das pautas de formação. É uma proposta consistente e pautada nas ações centrais da coordenação pedagógica: formação continuada dos professores, articulação do projeto político-pedagógico da escola e acompanhamento da aprendizagem dos alunos.
Marina Cadete da Penha Dias
Ciências Naturais – 9º ano / Anos Finais do EF
Projeto: Do LarBoratório
Escola: EMEF Martim Lutero
Cariacica, ES

“Quantas mulheres cientistas você conhece?” A frase instigou os participantes e também quem observa o resultado desse projeto: um ensaio fotográfico no perfil Do LarBoratório, no Instagram. Rodas de conversa permitiram que o trabalho transcorresse de forma dialogada entre os estudantes e a professora. Na primeira etapa, Marina mostrou apenas imagens de mulheres cientistas para ver se eles as conheciam. Em seguida, uma pesquisa em livros didáticos logo levou a turma a constatar a hegemonia masculina nos registros sobre Ciência. Entrevistar mulheres de suas famílias sobre o acesso aos estudos e ao trabalho, preconceitos e objetivos de vida foi outra tarefa proposta. Em outra roda de conversa, Marina apresentou o exemplo de Enedina Alves Marques, a primeira mulher negra a se formar em Engenharia Civil no Brasil, e incentivou os alunos a relacionar as opiniões nos depoimentos dos familiares com a história da engenheira. Além do ensaio fotográfico, que retratou mulheres em situações cotidianas com panos que exibem frases das cientistas, uma apresentação das discussões integrou a Feira de Ciências da escola.
Marli Vitali Corrêa KloczkoBebês / Educação Infantil
Projeto: Desvendando as cores dos elementos naturais
Creche: CEI Pequeno Príncipe
Joinville, SC

Marli mostrou que explorar elementos da natureza e espaços externos com os bebês é um desafio possível. Valorizou a capacidade dos pequenos de descobrir, experimentar e construir conhecimentos juntos, colocando em prática o equilíbrio entre “aventurar-se” e “sentir-se seguro”. Dividiu a turma em pequenos grupos para sair da sala e ficar ao ar livre. Disponibilizou materiais como carvão, terra e barro, pinhão, erva-mate, pó de café, beterraba e amido de milho para serem explorados pelos bebês, que puderam sentir as texturas, cheiros e sabores. Depois encheu bacias com tintas artesanais e ofereceu colheres, escovas de dente, bisnagas, palha de vassoura, esponjas e folhas como substitutos de pincéis. Cada bebê investigava a seu modo e fazia sua própria “lambança”. Com o passar do tempo, os que choravam se destacaram nas descobertas artísticas e peripécias, e os bebês que sentiam aflição em tocar nos materiais ficaram à vontade para experimentá-los, comprovando o potencial de aprendizagens do projeto.
Mayara Fiorito Faraco
Arte – 6º ano / Anos Finais do EF
Projeto: A rede é nossa! Tecendo experiências coletivas através de jogos propositores
Escola: EMEF Professor Osvaldo Quirino Simões
São Paulo, SP

Mayara buscou manifestações artísticas que fossem criações coletivas para envolver sua turma de 6º ano. Inspirada pelas proposições de Lygia Clark (1920-1988), brasileira que concebia o artista como um propositor ou um canalizador de experiências, motivou os alunos a produzirem jogos propositores. Dessa forma, vivenciaram a arte como um jogo, numa perspectiva contemporânea que dialoga com a estética atual. Entre as várias criações, sobressaiu a rede colorida de elástico, batizada de Rede Coletiva, inspirada na Rede de Elástico, obra de Lygia em 1974. Parte da sequência didática foi a visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), para apreciar a exposição sobre redes Vaivém, seguida por aula teórica e roda de conversa. Depois de tecerem pedaços em grupos e juntarem tudo em uma rede, meninos e meninas criaram diversas brincadeiras com ela nos espaços comuns da escola, estimulando crianças de outras turmas a interagirem com a arte.
Michelle Mariano Mendonça
Crianças bem pequenas – 2 a 3 anos / Educação Infantil
Projeto: Quando as sementes e os bichos falam?
Creche: CEI Vereador Joaquim Thomé Filho
São Paulo, SP

Todos os dias, Michelle diz para as crianças levarem ao jardim cestos para recolher o que acham interessante e sobre o que querem conversar: um jeito bonito e simples de escutá-las! “Para onde a minhoca vai? Como a planta sai da semente?” Cada curiosidade expressada puxa outras perguntas, que a professora transforma em oportunidades de pesquisa e aprendizagem. Ao longo do projeto, novos elementos foram sendo incorporados à rotina: um minhocário, um espaço para observar a metamorfose das lagartas, um insetário (para onde traziam insetos mortos do pátio e de casa). Quando começaram a indagar sobre o habitat dos animais, foram juntos investigar sobre as plantas do parque e o território da escola. A criação de uma horta, sugerida pela professora, foi aprovada pelas crianças e construída em mutirão pelas famílias. Michelle faz da observação o instrumento norteador de suas ações pedagógicas e para isso mantém registros escritos diariamente, fotografa e organiza as informações para que sejam revisitadas pelas próprias crianças, dando chance para novos questionamentos e aprendizados.
Michelli Marchi Oss-Emer
Língua Portuguesa – 8º ano / Anos Finais do EF
Projeto: O podcast na sala de aula: oralidade, escrita e tecnologia
Escola: EBM Paulina Wagner
Blumenau, SC

Para que seus alunos pudessem expressar melhor suas ideias, dominar a fala e ganhar segurança, a professora Michelli trabalhou a oralidade. Escolheu o podcast – gravação digital, contemporânea e acessível – por ser, segundo ela, uma forma de dar voz a quem não costuma ser ouvido. No 8º ano, os alunos começam a querer participar de temas além dos muros da escola, e esse gênero é potente para consolidar essa “ponte”. A professora apresentou um repertório adequado e garantiu momentos de apreciação e análise crítica de podcasts. Para saber mais sobre a produção, a turma conheceu e entrevistou uma dupla de podcasters da cidade. Nas aulas, Michelli inseriu exercícios de entonação, ritmo de fala, efeitos de informalidade e formalidade. As etapas de escrita contaram com momentos de pesquisa, planejamento e revisão. A colaboração foi essencial nas gravações e melhorou a dinâmica entre os estudantes. No produto final, publicado em plataforma online, nada se parece com texto lido, pelo contrário, as falas nas gravações são fluídas, como bons podcasts devem ser.
Milena de Souza Lima Paulista
Língua Portuguesa – 1º ano / Anos Iniciais do EF
Projeto: Leitura cultural
Escola: EMEB João Baptista Antônio Tamaso – Unidade II
Espírito Santo do Pinhal, SP

A autoria por trás de cada título lido com o 1º ano se destaca no trabalho de Milena. A qualidade literária é dada por uma seleção cuidadosa de títulos e escritores que inclui nomes regionais, como o do pinhalense Edgard Cavalheiro, um dos criadores do Prêmio Jabuti. A leitura coletiva, com discussões e registros, se intercalou com a leitura individual e o trabalho com vários gêneros textuais fez as crianças avançarem nas hipóteses de escrita. Por escolha da turma, a biografia de Ruth Rocha e vários de seus livros entraram na rotina e por fim os alunos resolveram escrever uma carta para a autora contando sobre o projeto, batizado por eles de Leitura cultural. Uma expedição investigativa pela biblioteca, prédio tombado de 1888 no centro de Espírito Santo do Pinhal, foi o elo entre o trabalho na escola e a valorização da cultura local, uma bandeira abraçada por Milena, coautora de um projeto de lei municipal nessa área.
Patrícia Schettine Paiva Rocha
Educação Física – 1º a 3º ano / Ensino Médio
Projeto: Conquista frisbee: discos que voam nos céus da Bahia
Escola: Colégio Estadual Abdias Menezes
Vitória da Conquista, BA

A professora Patrícia tem como princípios pedagógicos promover a inclusão e o respeito à diversidade. Por isso, resolveu romper com práticas tradicionais e excludentes da Educação Física e ampliar a cultura corporal dos alunos, levando em conta aspectos de gênero, protagonismo e apropriação dos espaços escolares e comunitários. Escolheu o Ultimate Frisbee, uma modalidade esportiva acessível, que estimula a convivência e motiva meninos e meninas ao se movimentar. Depois de pesquisarem em vídeos no YouTube, sites e blogs, os jovens foram divididos em pequenos grupos para conhecer o esporte e exercitar o manuseio do disco. Logo Patrícia introduziu o jogo com flexibilização das regras e mobilizou os times a participarem de um festival. Os alunos tomaram gosto pelo esporte e aprenderam não só sua história e suas regras, mas também a técnica, as noções táticas e as atitudes que o caracterizam. Na modalidade – que prescinde de árbitro – jogar bem inclui cooperação, autonomia e capacidade de autogerenciamento, comportamentos valiosos que se aprendem na quadra ou no campo e levamos para a vida.
Priscila de Freitas Machado
Crianças bem pequenas – 2 a 3 anos / Educação Infantil
Projeto: Brincadiquê
Creche: CMEI Sementes
Palmas, TO

O objetivo de Priscila é dar oportunidade para as crianças construírem seus saberes por meio de brincadeiras e interações, como preconiza o eixo de mesmo nome da BNCC e destacado em documentos curriculares da Educação Infantil. Com oferta variada de brinquedos, materiais não estruturados, elementos da natureza e uma organização estética dos espaços, no projeto Brincadiquê a professora criou contextos de brincadeiras onde os pequenos eram os protagonistas. Podiam fazer suas escolhas e interagir em grupos menores, pois a sala e a área externa ganharam cantos e territórios de exploração. O projeto foi estruturado em etapas, sempre acompanhadas de novas ambientações: brincadeiras de faz de conta (fantasias, itens para casinha); brinquedos do chão (foco em terra, fogo, água e ar); brincadeiras folclóricas (resgate de jogos populares com as famílias); brincando com as palavras (brincos e cantigas). A professora teve o cuidado de incluir todos nas atividades, sem ver a inclusão como um complicador, pois, segundo ela, se toda criança brinca, não há por que ficar nenhuma de fora.
Redjane Maria Nunes de AndradeLíngua estrangeira – Inglês – 1º ano / Ensino Médio
Projeto: Dignity studies here
Escola: EREM Dom Sebastião Leme
Recife, PE

Em uma sala desocupada da escola, Redjane construiu um espaço simbólico de diálogo, ideal para suas aulas, onde a intenção é dar voz aos jovens e mostrar que conseguem, sim, aprender inglês. Ano a ano, os estudantes se apropriam das paredes, pintam e desenham, mudando os temas de acordo com as discussões do momento. No projeto Dignity studies here, refletiram sobre o conceito de dignidade e sobre ações dignas e indignas na escola, situada em uma violenta periferia do Recife. Com base em entrevistas com funcionários – da merendeira à direção –, as turmas formularam suas próprias definições. Palavras relacionadas ao assunto compuseram a Dignibox, usada para jogos e atividades, fazendo circular o novo vocabulário. Interessada no uso da língua como ferramenta de transformação e construção de cidadania, Redjane apresentou aos jovens o discurso de Malala na ONU e um texto sobre a ativista. Também trabalhou a música Stand by me em versão do movimento Playing for Change, feito por e para crianças e adultos de vários países, muitos deles em situação de vulnerabilidade social.
Reinaldo José Haiek Araujo
Ciências – 6º ano / Anos Finais do EF
Projeto: Captura de poeira de meteoros
Escola: Colégio Rainha da Paz
São Paulo, SP

Após estudos e discussões sobre a origem e os componentes do sistema solar, os meteoros e as chuvas de meteoros, o professor Reinaldo lançou um desafio para meninos e meninas: “É possível coletar a poeira restante da desintegração dos meteoros?” Divididos em grupos, os alunos debateram sobre como fazer isso e coletivamente definiram a melhor proposta. Para sedimentar certa quantidade de poeira seria preciso uma longa estiagem, o que os levou a estudar a ocorrência e a frequência das chuvas na cidade e as prováveis datas de chuvas de meteoros. A turma então instalou pluviômetros analógicos e digitais na escola para acompanhar a variação da pluviosidade e analisar os dados ao longo de dois meses. Na sequência, construiu um aparato para coletar a água da primeira grande chuva após um período de seca. A água pluvial armazenada foi filtrada e, nos filtros secos, foi possível coletar e quantificar as partículas ferromagnéticas com ajuda de superímas. Os estudantes produziram um relatório sobre o engenhoso processo e apresentaram as etapas de forma lúdica na Mostra Cultural do colégio.
Tuyra Maria da Cruz Andrade
Língua Portuguesa – 1º a 3º ano / Ensino Médio
Projeto: Literatura marginal e música
Escola: EEMTI Pres. Humberto de Alencar Castelo Branco
Fortaleza, CE

As turmas da eletiva Literatura marginal e música, formadas por alunos de vários anos do Ensino Médio, estão sempre lotadas. Não à toa, pois Tuyra traz vivências da cultura juvenil para discutir temas como racismo, feminicídio, violência policial, desigualdade e resistência. A professora apresenta clássicos da literatura marginal, como Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, letras de rap e reggae, documentários e até um relatório econômico. A diversidade de referências amplia a discussão sobre o que pode ou não ser considerado literatura. Segundo Tuyra, o objetivo é que os jovens se sintam potentes para ler, escrever e se expressar como sujeitos críticos diante da disputa de narrativas da sociedade atual. Como consequência de leituras e de conversas com poetas e artistas convidados, os alunos mudam o olhar sobre a literatura marginal e sobre a periferia onde vivem, passam a praticar batalhas de rap e slam na escola e a procurar livros na biblioteca.
Vanessa dos Santos Araujo
Língua Portuguesa – 9º ano / Anos Finais do EF
Projeto: Identidades e desigualdades: uma pesquisa científica
Escola: EE Prof. Jácomo Stávale
São Paulo, SP

Depois da leitura de um artigo de opinião sobre selfies, Vanessa achou oportuno discutir com a turma as relações entre imagem, identidades e desigualdades. No primeiro bloco do projeto, selecionou textos de qualidade e de temas variados que ampliaram o repertório dos alunos. No segundo bloco, os estudantes desenvolveram uma pesquisa. Todos partiram da questão “Como as identidades se tornam desigualdades?” e escolheram um recorte para investigar. Cada um abordou um conflito de identidade que lhe gerava mais incômodo e, estimulados por documentários e vídeos, falaram sobre problemáticas da sociedade atual como o racismo, a intolerância religiosa e a LGBTfobia. Além de pesquisa documental, os alunos fizeram um levantamento censitário na escola, coletando dados de quase 1500 crianças e jovens sobre o modo como se identificavam em relação a raça/etnia, religião, sexo, gênero, orientação afetiva e idade. As pesquisas serviram como base para diferentes produções textuais, entre elas um infográfico e um artigo de divulgação científica.
Zeno Alcides Kaipper Ely
Gestão – Coordenação Pedagógica / Ensino Fundamental
Projeto: Educador de excelência na aldeia, por que não?
Escola: EEIEF Igineo Romeu Ko’eju
São Miguel das Missões, RS

Zeno é um jovem coordenador pedagógico que se deparou com um problema sério: alunos que não queriam estudar na escola da aldeia porque achavam que o ensino ali não era bom. A unidade atende cerca de 85 estudantes da etnia Mbya Guarani e conta com professores indígenas e não indígenas. Considerando a heterogeneidade do grupo em relação ao conhecimento para a docência, Zeno organizou uma proposta de formação para favorecer a troca de saberes e potencializar a atuação pedagógica de todos. Nos encontros são compartilhados saberes que dizem respeito à abordagem dos conteúdos curriculares e à cultura da comunidade, com contribuições dos professores com maior repertório em cada caso. Dessa forma, Zeno favorece um processo colaborativo e horizontalizado de trocas entre professores indígenas e não-indígenas, ampliando a qualidade do ensino e da aprendizagem. Os alunos agora querem estudar na aldeia, a relação com as famílias se estreitou e hoje a escola tornou-se uma referência na região, visitada por muitos interessados em conhecer sua proposta equitativa e inclusiva.