Elisângela, Educadora do Ano, e Rossieli Silva, atual Ministro da Educação

Elisângela Dell-Armelina Suruí ergue o troféu de Educadora do Ano 2017 na Sala São Paulo,

“Vocês não estão aqui, não pôde vir ninguém, porque é muito longe e muito difícil, mas eu sinto a presença de vocês em cada um que está nesta plateia”, disse emocionada a professora Elisângela Dell-Armelina Suruí, após agradecer na língua paiter e erguer o troféu de Educadora do Ano de 2017. Ao se referir aos índios da aldeia onde vive, ela marcou o momento culminante da celebração de 20 anos do Prêmio Educador Nota 10, na noite de 30 de outubro na Sala São Paulo.
A escolha do júri deu visibilidade para a valorização da cultura indígena e, principalmente, ao direito das crianças estudarem em sua língua materna. A alfabetizadora dá aulas para uma turma multisseriada na EIEEFM Sertanista Francisco Meirelles, na zona rural de Cacoal, em Rondônia. Em conjunto, eles pesquisaram temas presentes do cotidiano da aldeia e produziram seu próprio material didático. Para ela, receber a honraria é um estímulo a mais para organizar outros livros e uma enciclopédia paiter-suruí. “Como a nossa comunidade é distante aos olhos dos órgãos públicos, esse prêmio ajuda a mostrar que existimos, que estamos ali”, comemora a educadora. Um diferencial foi a inclusão da linguagem de sinais no material, já que há vários deficientes auditivos em outras aldeias dessa etnia. O trabalho também pode ser realizado por outras comunidades para registrar saberes em seus próprios idiomas.
“A língua escrita paiter-suruí tem menos de 10 anos”, conta a especialista em alfabetização Regina Scarpa, membro do júri. “É a língua materna, que ouvimos desde pequenos e aprendemos a falar, que constitui o nosso pensamento. Alfabetizar os alunos na língua materna é atender a um direito e isso nos emocionou muito”, completa Regina.
“Para a alfabetização, a escolha desse projeto mostra que é possível criar o próprio material, sistematizando os saberes. A Elisângela também teve o mérito fazer os alunos do 1º ao 5ª ano trabalharem bem juntos”, observou Miruna Kayano, selecionadora de alfabetização do Prêmio Educador Nota 10.
Segundo Anna Helena Altenfelder, presidente do CENPEC, o trabalho reúne três características importantes: tem capacidade de influenciar política pública, é uma inovação e, ao mesmo tempo, um trabalho pedagógico extremamente bem feito. Mas a escolha foi difícil. “Todos os professores acreditam na capacidade de aprender dos alunos, têm altas expectativas em relação a eles e a si mesmos, investindo em sua própria formação. Todos têm um olhar cuidadoso para as necessidades dos estudantes, a realidade atual, as desigualdades e o preconceito”, resume Anna Helena. Conheça aqui os 10 vencedores e seus projetos.
Para Meire Fidelis, diretora executiva da Fundação Victor Civita, trabalhos desenvolvidos em locais tão distantes dos grandes centros, como o de Elisângela, precisam ser divulgados. “O Prêmio Educador Nota 10, há 20 anos, busca descobrir, reconhecer e valorizar ideias simples, mas desenvolvidas com criatividade, que façam sentido para o aprendizado dos alunos”, diz ela.
Nesta edição comemorativa de duas décadas do prêmio, O Educador do Ano foi escolhido por uma banca de sete autoridades da área de Educação, são eles:

  • Ana Inoue (diretora do Instituto Acaia)
  • Anna Helena Altenfelder (presidente do CENPEC)
  • Lino de Macedo (Professor aposentado do Instituto de Psicologia da USP)
  • Mônica Dias Pinto (Gerente da Fundação Roberto Marinho)
  • Nuno Crato (ex-Ministro da Educação e Ciência em Portugal)
  • Regina Scarpa (Diretora Pedagógica da Escola e do Instituto Vera Cruz)
  • Rodrigo Hübner Mendes (Fundador do Instituto Rodrigo Mendes)

Saiba mais detalhes sobre a Academia de jurados do Prêmio Educador Nota 10.
A cerimônia, apresentada por Sandra Annenberg, teve show de Luiza Possi e participação do ator Dan Stuhlbach e a presença do Secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares da Silva, que abriu o envelope com o nome de Elisângela e anunciou ao mundo a Educadora do Ano.