Os vencedores de 2013

Alfabetização e educação pública foram destaque na premiação
Na 16ª edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, 15 selecionadores debruçaram-se sobre cerca de 3 mil projetos. Para chegar aos vencedores, foi preciso muitas horas de leitura e troca de ideias entre os especialistas, ligações para os candidatos, pedidos de esclarecimentos sobre os trabalhos e centenas de páginas de anotações. O processo longo e criterioso foi fundamental para garantir que o foco das iniciativas ganhadoras estivesse na aprendizagem dos alunos. O resultado foram 10 vencedores, todos eles de escolas públicas.
Ao receber o título de Educadora do Ano na cerimônia na Sala São Paulo, no dia 14 de outubro, Elisangela Carolina Luciano fez uma defesa da docência e pediu reconhecimento para o público que lotava a Sala São Paulo, na capital paulista. “Somos dez educadores, todos de escola pública. Nosso ofício precisa ser reconhecido por políticas públicas que priorizem a Educação de qualidade.”
O diagnóstico inicial feito com sua turma, em Mogi Guaçu, SP, mostrou que apenas três das 23 crianças estavam alfabetizadas. Ela não sossegou até resolver a questão, se valendo de um contexto real para estimular a produção dos alunos. “A Telma Weisz (especialista em Alfabetização e supervisora pedagógica do programa Ler e Escrever) disse que meu trabalho traduz para a prática o que está nos livros e pesquisas.” Elisangela alfabetizou todas as crianças do 1º ano em seis meses, com a escrita de placas informativas sobre frutas e vegetais vendidos no hortifrúti local. “Neste ano, a alfabetização foi eleita prioridade nacional e o trabalho de Elisangela pode ser referência para docentes do Brasil”, disse Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da FVC à época e presidente do júri.
Carmem Machado
Arte / Fundamental II
Projeto: Sentiver – inspiração, conteúdo e leveza
EE Professor Benedicto Leme Vieira Neto
Salto de Pirapora, SP
Os nossos movimentos surgem de impulsos e também estimulam movimentos em outras pessoas. Para compreendê-los, é preciso pesquisar o corpo e suas expressões. Atriz e bailarina, a professora Carmem já tinha bastante consciência dessas relações quando resolveu investigar e trazer à tona como seus alunos do 6º ano se moviam. O trabalho foi inspirado nas obras da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009) e da pesquisadora norte-americana Viola Spolin (1906-1994), que a docente, graduada em Educação Artística, conheceu na pós-graduação em Pedagogia do Teatro. Ela apresentou referências da dança e sugeriu vários exercícios corporais aos alunos. Objetos trazidos por eles e pela docente fizeram parte das cenas criadas: aquelas que eles mais gostaram integraram a coreografia final. O resultado – não mais importante do que o processo vivido pela turma – foi uma dramaturgia contemporânea, mas construída de forma que todos se sentissem parte da narrativa.
Leia a reportagem em Nova Escola: A consciência do corpo ajuda a criar a dança
Elisangela Carolina Luciano – Educadora do Ano
Alfabetização / Fundamental I
Projeto: Sacolão de letrinhas
EMEF Adirce Cenedeze Caveanha
Mogi Guaçu, SP
Ao assumir a turma, Elisangela constatou que apenas três das 23 crianças do 1º ano estavam alfabéticas. Resolveu, então, criar um contexto que favorecesse a evolução da classe, aproveitando um hortifrúti próximo à escola. A meninada criou 70 placas para informar aos clientes o preço e as qualidades de legumes e frutas. Em grupos, em duplas e individualmente, os alunos fizeram diversas revisões até alcançar a escrita convencional. Ao levar os estudantes a pensar sobre a grafia das palavras e se preocupar em escrever textos que teriam de ser compreendidos por leitores reais, Elisangela fez com que as reflexões deles ganhassem sentido. Afinal, não se tratava somente de escrever para a professora ler. Ao final do projeto, o hortifrúti ganhou novas placas informativas confeccionadas pela turma e todos os alunos progrediram na escrita, sem exceção.
Leia a reportagem em Nova Escola: Alfabetização: placas novas para o hortifrúti do bairro
Jacqueline Cristina Jesus Martins
Educação Física / Fundamental I
Projeto: Ginásticas: saúde e lazer x competição
EMEF Tenente Alípio Andrada Serpa
São Paulo, SP
Trabalhar valores como diversidade e cidadania era uma prioridade do ano na escola de Jacqueline. Com os aprendizados obtidos no Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da Universidade de São Paulo (USP), ela desenvolveu um projeto que ampliou o conhecimento do 5º ano sobre diversos estilos de ginástica e promoveu discussões sobre o corpo e o respeito às diferenças. As atividades contemplaram a prática de modalidades como ginástica artística, ioga e até hidroginástica. Jacqueline dividiu as práticas em dois eixos: as ginásticas de saúde e lazer e as de competição. Todas envolviam o levantamento do conhecimento prévio do grupo sobre cada modalidade, os exercícios em si e a sistematização dos conhecimentos por meio de registros, como notas e desenhos. A turma analisou aspectos como as mudanças que ocorrem no corpo devido à atividade física e aprendeu a conviver e se respeitar fazendo ginástica.
Leia a reportagem em Nova Escola: Exercícios que dão valor à participação
Janaina Oliveira Barros
Coordenadora Pedagógica / Fundamental II
Projeto: Narrativas do professor que ensina e aprende na escola
Escola Professora Ivani Oliveira
Seabra, BA
Após analisar os diagnósticos feitos com as turmas de 5ª à 8ª série, Janaina notou que apenas cerca de 40% dos alunos tinham o aproveitamento esperado. Para melhorar esse quadro, ela propôs um plano de formação continuada para os professores com foco nas avaliações. Ao longo de um semestre, os docentes levantaram hipóteses sobre o baixo desempenho, analisaram as provas que faziam e verificaram se elas estavam coerentes com as produções dos alunos. Cada professor escolheu uma prova e um caderno para fazer um estudo de caso. Foi ao participar de diversos encontros como aluna e formadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), em Palmeiras, que a coordenadora passou a dar importância aos registros dos alunos. Após as reflexões, os educadores se deram conta de que as provas não dialogavam com o que haviam trabalhado em sala e que o nível de dificuldade não era adequado. Em seguida, os adolescentes passaram a se sentir mais seguros nos exames porque sabiam que eles contemplariam de fato os conteúdos abordados em aula.
Leia a reportagem em Nova Escola: Coordenação pedagógica: provas testadas e aprovadas
João Paulo Pereira de Araújo
História / Fundamental II
Projeto: Nos caminhos da escravidão
EE Justiniano Fonseca
Leopoldina, MG
O município de Leopoldina, a 323 quilômetros de Belo Horizonte, era o segundo em presença de mão de obra escrava no país nos anos que antecederam a Lei Áurea. Apesar de os desdobramentos desse fato serem visíveis, a turma do 6° ano não relacionava o local onde vive com a escravidão. Mas, se tantos escravos tinham vivido na região, era provável que a história deles ainda estivesse em circulação pelo distrito. Pensando nisso, o professor propôs que a classe fosse a campo ouvir os moradores, mais velhos, não sem antes elaborarem uma pauta de perguntas coletivamente. Com pesquisas na internet e análise de documentos históricos, como jornais daquela época, os alunos recolheram evidências e identificaram os traços culturais decorrentes do período histórico. Ao final do projeto, reconheceram a influência dos grupos abolicionistas e dos negros no processo que culminou com o fim da escravidão.
Leia a reportagem em Nova Escola: Em busca de pistas sobre a escravidão
Karina Drude Puga Rui
Ciências / Fundamental II
Projeto: Cobras, escorpiões e lendas
EE Maria Falconi de Felício
Pitangueiras, SP
Era comum os alunos de Karina dizerem ter encontrado escorpiões quando chegavam à escola. A cidade em que vivem, no interior de São Paulo, sofre com os ataques do aracnídeo e por isso a docente resolveu focar nele suas aulas sobre animais peçonhentos no 7º ano. Bióloga, Karina fez uma especialização e uma pós-graduação em Educação Ambiental. Os aprendizados sobre como usar sequências didáticas colaboraram para que ela desenvolvesse o trabalho, que incluiu analisar em classe os escorpiões coletados pelos alunos em casa e na rua. A turma logo entendeu a importância do conteúdo e se envolveu nas etapas de investigação, leitura e sistematização. Depois do estudo, as crianças passaram a reconhecer áreas de risco de acidentes com animais peçonhentos e a conversar com os pais e os vizinhos para que o entulho seja retirado.
Leia a reportagem em Nova Escola: Investigação científica sobre um vizinho perigoso
Lidiane Cristina Loiola Souza
Educação Infantil / Pré-Escola
Projeto: Paisagem sonora e exploração musical
EMEI Papa João Paulo II
São Paulo, SP
Professora de Educação Infantil formada em Artes Visuais, Lidiane começou a se interessar pelo ensino de Música graças à pós-graduação em Linguagens da Arte e a cursos de formação. Nesses espaços, teve contato com a obra do compositor canadense Murray Schafer, criador do conceito de paisagem sonora. Ela se propôs, então, a levar as 35 crianças de 5 e 6 anos a desenvolver uma escuta mais atenta. Dividiu a turma para explorar o pátio externo, onde os pequenos foram convidados a parar, ficar em silêncio e prestar atenção para perceber os sons que compunham a paisagem. A investigação continuou pelos corredores da escola. Cada grupo desenhou o que ouviu, socializou com os colegas e depois foi desenhado um mapa sonoro da escola. Lidiane também apresentou vídeos dos grupos musicais Stomp e Barbatuques. Depois colocou a turma para produzir música com palmas, estalar de dedos, batendo os pés e usando a boca e objetos do cotidiano em uma grande e improvisada sinfonia.
Leia a reportagem em Nova Escola: A música do mundo ao alcance de cada um
Rosiane Ribeiro Justino
Língua Portuguesa / Fundamental I
Projeto: Conhecendo os felinos brasileiros
EM Dr. Sadalla Amin Ghanem
Joinville, SC
Rosiane lançou uma missão para os 55 alunos do 3º ano: escrever um livro informativo sobre os oito felinos brasileiros, que ficaria na biblioteca da escola. Depois de apresentar a proposta e levantar o que a turma sabia sobre os oito felinos brasileiros — gato-palheiro, gato-maracajá, gato-mourisco, gato-do-mato-pequeno, gato-do-mato-grande, suçuarana, jaguatirica e onça (pintada e negra) —, a educadora distribuiu aos alunos um caderno de projetos, material elaborado por ela com as etapas que seriam desenvolvidas e textos de referência sobre os animais. Em duplas, a turma iniciou a investigação sobre os felinos. E, enquanto mergulhava na pesquisa, desvendou as características do gênero. Para chegar ao produto final, os estudantes passaram por várias etapas de escrita, revisão e reescrita, aprimorando as suas produções de texto, sempre pensando nos futuros leitores.
Leia a reportagem em Nova Escola: Pequenos autores, grandes felinos
Silma Rabelo Montes
Geografia / Fundamental II
Projeto: Olhares, vivências e saberes geográficos
EM Professor Domingos Pimentel de Ulhôa
Uberlândia, MG
Paisagem, orientação, lugar. Esses conceitos-chave da Geografia foram abordados por Silma com o 6º ano. Durante quatro meses, os 32 jovens de sua turma estudaram as características de Uberlândia, a cidade em que vivem. Criaram gráficos, analisaram mapas e muito mais. A educadora trabalhou procedimentos básicos da disciplina, hoje esquecidos pela maioria dos professores: a observação, a descrição – gênero textual importante para organizar as informações capturadas pelos sentidos – e a análise. Ela também propôs a produção individual de um dicionário geográfico ilustrado, que foi confeccionado ao longo de todo o projeto. Os termos eram incorporados progressivamente à medida que cada um avançava no estudo. Quem tinha necessidades educacionais especiais (NEE) finalizava a tarefa com o apoio do Atendimento Educacional Especializado (AEE), trabalhando os verbetes dentro de suas possibilidades.
Leia a reportagem em Nova Escola: O lugar de cada um no mundo
Simone Carvalho da Silva
Matemática / Fundamental II
Projeto: Monitores: aprender, reaprender e ensinar Matemática
EM Ivo Silveira
Capinzal, SC
Quando um aluno explica para o outro, usa uma linguagem mais simples e eles se entendem melhor. Ao notar isso, Simone começou a planejar um esquema de monitoria para suas aulas de Matemática. Ela estabeleceu critérios para quem quisesse ser monitor: era necessário ser comprometido, gostar de compartilhar conhecimento, ter bom desempenho na disciplina e disponibilidade para participar de reuniões no contraturno. Os grupos – que incluíam uma aluna surda e muda – se reuniam duas vezes por semana. Para cada classe do 6º ao 9º ano foram definidos cinco ou seis monitores. A professora apresentava e explorava o conteúdo com a turma inteira, como fazia antes. Depois da aula, os monitores se reuniam com ela, estudavam mais o assunto e conversavam sobre como o tema poderia ser trabalhado com os colegas. Propostas de jogos e atividades eram repensadas em conjunto para serem levadas à sala. Com o projeto, todos passaram a se envolver mais no processo de aprendizagem.
Leia a reportagem em Nova Escola: Com monitores de matemática, todos avançam mais